domingo, 19 de dezembro de 2010

O clichê sorria e morra.

Já cansei de destinar palavras para o vazio.
Cantar para o vácuo e aguardar resposta.
Me sinto um poeta bêbado, a escrever versos sujos, num bar às moscas.
Palhaço de plateia alguma.
Ator de comédia vazia.
Me lembra uma cantoria,
um homem que podia transmitir informações, sem que notassem que ali estava.
Vazio.
Transparente.
Celofane.
Meu rosto pintado, mãos suadas, olhos lacrimosos.
Estou triste, mas escondo.
A plateia quer me ver sorrir.
Então ponha o salto alto.
Retire suas roupas com os seus pudores.
Faça movimentos contínuos e lentos.
Rebole.
Ninguém liga se aquela vadia dançando é filha de alguém.
Ninguém liga, enquanto ela for sensual para deixar em suas mentes pensamentos inapropiados.
Ninguém liga.
Porque o mundo é egoísta,
e foda-se se você não gosta.
A culpa não é sua, agora dispa-se e vá se prostituir.
Vá vender a sua imagem por cada centavo que achar que valha.
Venda a alma ao diabo.
Mas na hora da morte, não chore misericórdia.
Pegue suas ultimas gotas de dignidade e cale a boca.

sábado, 18 de dezembro de 2010

Silêncio

Silêncio
nada de som na neblina dos corpos nus.
Um encarar leve
sem saber.
Um que outrora jurava amor
fazia crescer uma mágoa no peito de pedra da fera.
Uma fera ferida.
Os desumanos sentem dor
mas não a que proporcionam;
como os sádicos que se encolhem ante aos chicotes retumbantes em sua direção.
Silêncio
porque as vezes, não existem palavras que digam.

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Breve

Quem eu vou enganar?
Eu tento escrever versos felizes, mas saem morcegos da ponta do meu lápis.
Pra que eu falar das palavras na noite, se para fazê-la bonita precisaria das estrelas escondidas pelas nuvens embriagadas?
Eu não tenho o dom da felicidade, mas o da angústia.
Poeta triste, de uma cara.
Seria enfadonho, continuar com letras sem fim, se o conteúdo é o mesmo desde que me lembro por gente.
Fim

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Eu e você

Badalando no silêncio;
um ressonar esplêndido;
as batidas da solidão;
latejando em minhas têmporas.

Que o mais sozinho dos acompanhados;
que retorna para o lar, sempre errante e só;
desacompanhado dos acompanhantes;
interesseiros vagando sem rumo.

E a mais acompanhada das solitárias;
sempre aos prantos desesperados nos colos de seus semelhantes;
indagando do mundo escuro;
a falta d'outros amantes.

Que dessa união surgiria fruto;
luminoso e indevido ser;
saber-se previamente ia;
dos caminhos pecaminosos da maçã.

Mas que ainda buscassem desatar-se;
aqueles que se unem, pelos opostos;
como imas grudados, fundidos;
dificuldade em separa-los.

E estas duas criaturas carentes;
fazendo-se ambamente companhia;
buscando frustrar os temores, destruir as angústias;
eles juntos, vivendo, amando, sentindo...
Passado, Presente, Futuro

domingo, 21 de novembro de 2010

Guerra

Estou mais uma vez à esperar
à esperar algo que se passe
Que se passe completamente livre
Livre e que venha livrar a mim
À mim destinada angústia destrutiva,
deglutida em minha garganta lamparida.

Neologismos ponderáveis: uma angústia que não é minha.

Mais por fugir do enfrentar
Enfrentar a mais árdua das batalhas
Batalha interna que não acaba
E por falta de palavras, destruo o
vínculo trincheira-narrada,
e parto para o campo, onde sou
onde sou, apenas vítima desamparada.

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Oração

Eu saberia falar dos meus sentimentos.
Se não tivesse aprendido a guarda-los pra mim.
Eu saberia controlar os meus pensamentos.
Se não tivesse aprendido a ser autentica.
E por isso essa dor me parte.
E eu não a reparto.
Mas não ajo verdadeiramente.
Os que me rondam, vivem com uma versão ruim de mim.
Há quanto tempo não vejo meus amigos?
Há quantos meses não abraço os meus irmãos?
Parece que fazem anos desde que tudo se esvaiu.
O mundo rui sob os meus pés.
E como não tenho asas, não posso voar.
E como só tenho pés pregados ao chão só me resta rezar.
"Por favor meu Deus, não me deixe penar muito!"

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Falando de estrelas

Eu não quero lembrar das angústias da escalada.
Ninguém quer.
Ninguém tira fotos, faz poemas, expõe o cansaço físico e mental a que nos submetemos para alcansar nossos sonhos.
Ninguém deseja lembrar de como alguma coisa foi increvelmente fatigante.
Gostamos de lembrar que passou.
As brigas, aquelas, que no momento achamos que vão nos destruir, mas terminam por nos impulsionar; delas, ninguém quer lembrar.
Queremos lembrar do auge.
Do topo.
Por isso, vestimos nossas roupas mais bonitas, arrumamos o cabelo em sinal viril, pintamos nossas faces desajeitadas; e, ai sim, registramos, de toda maneira que pudermos, o momento.
Saimos sorrindo, abraçados uns aos outros, em sinal de vitória.
E lembramos daquele dia sempre que podemos.
Porque esperamos outra oportunidade de sermos felizes.
Um album de fotografias não se compõe de lágrimas, mas de lembranças que queremos guardar.
E eu só quero lembrar do que vier depois.
Porque o agora é tão degradante que me descabela, me desconcerta.
O agora, é incrivelmente inusitado, para mim que o presencio agora, mas tão conhecido aos milhares de anos a correr.
Então, por que puni-lo e evita-lo?
Se eu posso passar batida por ele, sem que este arranque minhas vértebras e funde feridas irreparáveis.
Se eu posso correr por ele, e daqui um ou dois anos, olhar pra trás e pensar: é, passou.
Não que o futuro seja mais simples...
Mas isso é papo pra mais tarde.

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Aniversariando


Flávio Coelho de Oliveira

























Tudo faz aniversário.
Os dias passam.
Contamos 365 longos dias desde algo.
Bum: aniversário.
Dia 07/10
Aniversário.
Fim.
Recomeço.
Re-união.
Ou não.
Ou sim.
Não importa.
O que importa, é que neste dia, eu tive de concordar.
Que 365 dias de ausência passaram.
E eu achei que nem fosse notar.
Achei que nem fosse perceber a ausência.
Que nem fosse chorar a distância.
Ingenuidade.
Como eu poderia não notar a ausência de alguém que esteve presente em 94,2% da minha vida?
Como eu poderia achar, que 365 dias não são nada?
Apenas uma pequena porção dos mais de 6.000 que vivi, mas....
Antes sentisse os dias.
Mais que isso.
Senti o ano, senti as semanas, senti os dias, senti as horas, senti os minutos, senti os segundos.
Mas ainda assim, parece que foi ontem.
Ontem que chorei o teu poente sob a chuva.
Ontem que esperneei lágrimas que não continha.
Ontem que te dediquei carta e terço.
Ontem que me despedi.
Ontem, que ainda pequena, brinquei de balanço sob tua vigília.
Que escutei o cantar dos pássaros que no quintal em pg procriavam.
Que ri, que brinquei, que fui criança.
Do teu lado.
E me sobraram o relógio.
Que faz tic tac como o som do seu coração valvular.
De fundo azul que lembram o céu e a piscina que tingiram minha infância.
Que jazia em teu pulso sempre, mesmo quando o olhar não lhe permitia decifrar as horas.
Chorei este dia, uma lágrima amarga, que doía na garganta.
Mas chorei, não por tristeza.
Chorei de saudade.
Uma saudade cronica, que tende a crescer ao longo dos anos.
E nas minhas crises de abstinência de você, lembrarei dos dias felizes.
E ficarei feliz, porque eu sei, que em pouco tempo nós iremos nos reencontrar.
Te amo.
Nada que você não saiba.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Descompaço

Eu e você.
Intenso.
Brincar de pique no escuro da dispensa.
Eu e você.
Criança.
No teu colo como um bebê.
Eu e você.
Mais eu do que você.
Perdão.
Egoísmo irrefutável.
Monotonia.
Minha casa, euforia.
Eu e você.
Quero tanto seus olhos.
Decifrar sua alma.
Ufanismo romântico.
Quero Roma.
Quero a Grécia.
Quero meus cabelos grudados no suor que escorre do seu peito.
Sem frescuras.
Sem frases longas.
Breve.
Espontâneo.
É incrível.
Inevitável.
Imutável.
INCOMPATÍVEL.
Teu sangue, meu veneno.
Teus lábios, meu vício.
Te quero.
Eu e você.
Você e eu.
Porque você é mais importante.
Fique com a primazia.
Eu amo você.
Não.
Você possui meu amor.
Serve?

domingo, 3 de outubro de 2010

Amor absoluto

Pequenas palavras.
Pequenas orações.
Insubordinação, frieza.
Frase de um só verbo, uma única ação.
Você o sujeito, eu o objeto indireto.
Incoerência.
Fim.
Uma única palavra ferindo, leviana, impura, cortando um pulso de sangue vertente.
Palavras desembocando em delta num rio raso.
Turbilhão, maresia.
O vento voando, voltando, visando, volátil, vacilante, ventania.
Como matéria crua, de madeira cozida.
O uivo gritante, clamando atenção.
Eu sou eu.
Predicado predileto.
Me ama.
Você ama a mim.
Oração simples
Sujeito e predicado justapostos.
Fim de discução.
Eu vejo tanto de você, que tão pouco vê de mim.
Mas, não vamos mais brigar hoje.
Eu amo a você.
Fim de discução.
Eu exijo tanto de você, que tão pouco exige de mim.
Eu peço desculpas, será que adiantam?
Te daria o céu, mas falta.
Te digo o amor, se tornou vulgar.
Me perdoa, não vai.
Me abraça.
Me beija.
Me viva.
...
...
...
...
...
Eu amo a você.
Fim.

sábado, 25 de setembro de 2010

Afrodite

Perdeste, afinal teu pedestal de desejo?
Perdeste, afinal teu domínio sobre os reles mortais?
E que farás do sentimento torpe que enuncias?
De quem tragará as angústias amorosas?
Afinal, que fizeram de teus poderes supra terrenos?
Donde foram os encantos?
E os feitiços?
As bolas de cristal, então, espatifaram-se.
O futuro é negro como carvão.
O céu não mais se abre de louvores por tua presença.
Recolha teus cacos.
Devidamente coloque-te em teu lugar.
O amor se tornou desnecessário.
Não precisamos de teus serviços.

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Fim

Existe um cansaço.
Que não se controla.
Ele se apodera.
Flui pelas suas veias e artérias, se instala no seu coração e pulmões, e espalha, para todo o corpo.
Um cansaço que faz apodrecer seus órgãos, lentamente.
Letalmente.
E é inesperado, inexpressível.
Uma hora você está, na outra já não.
É como se de repente tudo fosse tédio, sombras e marcha fúnebre.
E eu já passei por isso.
E eu já lutei contra.
E não encontro novas forças para lutar.
Estou frágil e cansada.
E me sinto só.
Como só?
Me sinto sozinha, num mundo que só deseja me pisotear.
Me sinto insegura.
Me sinto infeliz.
Sinto angústia e desanimo.
Sinto...
nada sinto.
Uma velha chaleira repousa sobre o fogão à gás.
Chiando o vapor d'água que escapa, avisando que o café já pode passar.
Mas não adianta chiar, a casa está vazia, não tem ninguém pra transformar a água em café.
A chaleira berra, até toda água evaporar.

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Algodão doce

Me pasma a maneira como as coisas são efêmeras.
Me impressiona a maneira como o céu fica nublado da noite para o dia.
Me embasbaca a maneira como as palavras ferroam e ferem os ouvintes.
Me magoa, me entorpece, me maltrata.
Me torno um farrapo, andando com panos rotos, embrulhando minha pele fria.
Tudo isso porque parece que é pau, é pedra, é o fim do caminho.
E se for pau, pedra e fim do caminho;
que faço com o resto?
Que faço com as outras palavras, com os outros gestos?
Que faço com os abraços e beijos?
E se for nada, esqueço?
E se esqueço, não lembro.
Dor.
Porque os meses consomem rapidamente o que os anos cuidadosamente criaram.
Se devoram, tamanha a voracidade do ato.
Cobras disputando o reino.
Com seus venenos escorrendo pela terra.
E se cobras reinam um mundo malévolo, que neste seria a mais inofensiva, a do veneno mais fraco, não menos letal.
E que se de ventos se fazem os furacões, o bater das asas de um mosquito são capazes de causa-lo.
E se o causam?
E se o causam pequenas coisas acarretam em coisas gigantes.
E dai, que fazer?
Se jogue da ponte, tome chumbinho, amarre uma corda ao pescoço.
Mas então, saiba que você entregou os pontos antes do fim do jogo.
Então, que fazer?
Perdoe-se, perdoe os outros.
Esqueça os pequenos problemas.
Esqueça as pessoas que te perturbam.
Esqueça quem não te dá valor
E se, você conseguir esquece-los, terá ao seu redor, apenas coisas boas e pessoas boas para aproveitar.
Então, se você é capaz de fazê-lo, liberte-se.
Voe, livre.
O vento vai te ajudar a alcançar as nuvens.
E eu quero estar de mãos dadas com você, quando juntos provarmos do doce que são feitas as nuvens.

sábado, 7 de agosto de 2010

não cabe

Eu realmente me pergunto onde foi parar aquela mulher confiante.
É, aquela, que anda na rua com o seu salto alto e rebolado definitivos, e que não precisa de palavras pra saber que estão todos olhando pra ela.
Aquela, que faria qualquer coisa.
Aquela super mulher que não duvida de sua capacidade de nada.
Aquela.
Onde está?
Ah, escondida atrás da menina.
Da pequena menina amedrontada com medo do escuro.
É, aquela boba, tola, de sorriso acanhado.
Aquela moça ali, tão indefesa e inofensiva.
Tão comum, tão comum.
Não mais há que explicar.
A muralha desabou.
E ela está só, com os restos do muro que construiu.
Abaixe a cabeça e chore.
Não cabem títulos ou denominações.
A lágrima escorre dos olhos do palhaço.
Sabe como dizem, casa de ferreiro, espeto de pau.

sábado, 17 de julho de 2010

Sereno

Sinta a brisa
desgrudando os cabelos suaves da sua testa.
Feche os olhos, respire, esqueça tudo.
Focalize o momento.
Deixe passar os pequenos problemas.
Sinta a roupa esvoaçar no corpo, o vento fugir.
Sinta a areia se debatendo por sob seus pés.
Abrace o infinito, deguste-se nas intermitencias da vastidão.
Dê significado aos seus atos.
Dê valor aos seus amigos.
E lembre deles agora, quando o sol cai vagaroso, e lua sobe pomposa.
E dedique-se a eles amanhã, quando o seu olá significar muito.
Desvencilie-se das barreiras temporais; o que é importante é caracterizado pela atemporalidade.
Beije o sol, reuna os grãos de areia na palma das mãos.
Desdobre-se pelo milagre, regurgite um sentimento feliz.
E nunca esqueça, desse momento.
Nunca se permita perder esse sentimento leve, que dá o ímpeto de voar.
E bata suas asas, contra o vento que fustiga.
E atarefe-se do prazer de bate-los, mesmo que o movimento não tire seus pés do chão.
Caia de costas, sinta-se livre.
E quando a liberdade só não bastar, desacorrente um outro alguém.
E pernoiteie em andanças amigas, festejando a liberdade que nos foi conferida.
Se permita sentir isso, ao menos uma vez na vida.
Voe, se permita ficar nu, de mascaras, falsidades e vícios.
Permita que alguém te veja nu, completamente nu, dos intemperismos mundanos.
E passe o conselho adiante.
O inverno castiga, mas o sol ainda há de secar as últimas lágrimas que a chuva deixou cair.

domingo, 11 de julho de 2010

simples

os dias rolam
com que frequencia o fazem
nem lembro
nao lembro as virgulas
os acentos ortograficos
muito mal lembro a sequencia
em que seguem as letras

e por nao lembrar do trivial
esqueco tambem o importante
esqueco voce
suas maos
seu sorriso
esqueco nossas suplicas
nossos segredos
e quase esqueco
o nosso passado

e por esquecer
preciso que me lembre
e me beije
e me abrace
como se esse
fosse o nosso ultimo tango

domingo, 20 de junho de 2010

Bruxas travestidas de Fadas

O tempo corre.
Com ele eu mudo, tanto, tanto.
O mundo gira, eu giro junto.
Mostro pras pessoas outras faces.
Faces tantas, que mudo.
Mascaras que escondo à noite;
quando tudo é tão natural.
O tempo me surpreende, porque anda mais rápido que os ponteiros do meu relógio.
(Que horas batem na minha cabeça?)
Quantos minutos se passaram do dia enquanto minha mente lateja três horas?
Quantos amigos perdi nos últimos dias?
Novos conhecidos que não substituem os meus confidentes.
Pela primeira vez não os acumulo, os perco; pelas badaladas secas e insensíveis do meu relógio.
E os sinto tão distantes.
Estou me transformando em outra pessoa.
A metamorfose me faz de princípe o que um dia foi sapo; ou o oposto?
Ainda ouço de palavras secas, as lágrimas que verti internas, corroendo como ácido;
pelo simples motivo de não poder chora-las.
O que está havendo?
Não sei.
Quem eu sou?
Além de nome e sobrenome? Esqueci.
Sinto que a minha vida é um diário, cujas páginas comecei a deixar em brando de dois ou três meses pra trás.
E hoje, eu já nem lembro o que fui, quando o tempo me corria livre e eu reclamava dele constante.
Anyway...
E esse jogo dilacerante de humor, me desfaz em cacos;
me prova, irrefutavelmente, que meu conto de fadas está amaldiçoado.
E mais uma vez, venho falar das bruxas, que travestidas de fadas, me fazem crer em felicidade.
Por que?

terça-feira, 15 de junho de 2010

Je t'aime

Me diz das estrelas?
Me canta o mundo?
Sussurra no pé do ouvido os teus prantos?
Segure a minha mão e me leve por essa andança.
Me mostre que o sonho vive além do meu travesseiro.
Me beije.
Me abraça.
Me fala do mundo e suas graças.
Me abençoe.
Me perdoe.
Me ofereça teu corpo em caça.
Não diga.
Não critique.
Me olhe.
Me console.
Me ensine a esperança.
E se ainda houver tempo de sobra,
diga pra mim suas palavras mais nuas.
Se entregue e fale:
Je t'aime

sexta-feira, 4 de junho de 2010

Amor

Mais que de angústias
padece o coração errante
Que de tantas amarguras
escorre em lágrimas e sangue

Mais que esconder-se da escuridão
criar um universo particular
Que vive errado em acertar
e dilacerar as fagulhas da paixão

Mais que buscar dos astros celestes
à doçura dos mais doces amantes
Deleitar-se dos faróis crescentes
que iluminam os enamorados passantes

Mais que esquecer as tristezas
arranca-las do peito em chamas
E abri-lo às grandes surpresas
que só amamentamos em nossas camas

Mais que esquecer um velho amor
troca-lo por um novo e colorido
E deixar o antigo, sem cor
sozinho e esquecido

Mais que amar novamente
desejar de maneira controversa
Sonhar levemente
sentimento límpido que regressa

Amor...

sexta-feira, 28 de maio de 2010

Domingo

Braços que amam, cercando, marcando. Determinando onde começa e onde acaba seu território. Mãos brincando, acariciando ilicitamente um corpo maculado de angústia e dor. Lábios que dizem, beijam e dançam, num ventre, num seio, num sorriso. O fato é cíclico, como as manhãs e as noites. Os dias transformam-se em escuridão, a luz que apaga, e deixa resquícios de dia. Dois amantes, engalfinhados até as raizes dos cabelos, fazendo juras e cumprindo, metas, sonhos, dádivas. Ainda valessem as horas, as semanas correriam naquele festival de carinho. Ainda que o sono os abatesse, vida bandida, arrastava para longe seus objetivos tolos, típicos dos apaixonados. Como as crianças crescem, e os adolescentes se tornam adultos, aqueles amantes tinham de respirar o dia de amanhã. Um novo dia começa, e cada um com seus deveres deve abandonar seu parceiro amado. Um beijo tocado no topo do lábio, pela noite que os reserva malícias, é um até breve. Ainda como que prevendo algo ruim, a moça declama sua paixão, e promete futuro, casamento, crianças. O moço satisfeito, a beija delicado, e repete então seus votos de compromisso. Amor, um adeus que não separa os praticantes.

sábado, 22 de maio de 2010

Sensualidade

Aracnídeo irreparável.
Escalando os arranhacéus com suas oito patas arrojadas.
Aracnídeo irresoluto.
Meus passos tropegos de duas pernas inarticuladas, como paus dançando no fogo que labareda.
Me dilaceram, as chamas dançantes, que por mim são influenciadas.
Eu as elogio, e as incentivo fazer queimar.
Aracnídeo imaculado.
Admirado, seus rituais frívolos de amor e criação.
Para que os laços afetivos?
Desejo carnal deve ser reparado com desejo arnal.
Não importando a arma ou o mercenário.
Aracnídeo importuno.
Seus traços animalescos me exitam, e convidam para um mundo que há tanto evito.
Aracnídeo viciante.
Me muta, me mutila, me ensina a futilidade.
Aracnídeo irreversível.
Me mata, para que o eterno gozo viva em mim.

Insônia


Solidão imensa, me joga na noite tenebrosa, me unta de mágoa e rancor, me imerge em depressão. Noite escura, opaca, não vejo um palmo à minha frente, o frio, com seus dedos gelados, sobe a minha nuca. Tenta me excitar com o desconhecido, a escuridão. Solidão, estado negro de humor. Tão só e melancólico como um palhaço de cara pintada. A iminência das lágrimas salga na boca. Não se fala de perdão durante o pecado. A noite não vira dia, o sono não chega, sonho de algum mercenário. Mais duas palavras seriam ditas se tivesse a quem falar. O amor é tão dilacerador durante a noite só. Não se fala de amor quando desiludido. Não se fala de sexo, a menos quando se fala de vulgaridade, o tempo todo. Não fala, aquieta. Morre, pássaro alado, meu Al Corão incompleto, minha Bíblia maculada. Buenas Noches. Me basura el futuro e desea me lo desconocido. Desenhe o passado para que seja verdaeiro. I'm here.

quinta-feira, 20 de maio de 2010

As toalhas assassinas

Já vinha cansada havia tanto, de correr do maníaco com o martelo. Seguiram-se bem uma meia hora de pura corrida até que eu o pudesse despistar nas ruas dos vilarejos do reino. Passaram mais ainda uns vinte minutos até que eu me convencesse de que nao mais era perseguida. Segui em paz armada e alerta para a minha casa. Cheguei, com o suor secando nas minhas costas e tornando a minha pele uma espécie de papel colante. Entrei, implorando por um banho quente. Quase ciente de que na época que eu vivia, séculos antes mesmo do nascimento dos meus pais, não houvesse água encanada ou energia elétrica que a esquentasse; flui, desanimada, em direção à casinha. Esperei abrir a porta e ver as tábuas sujas, um balde representando a pia e um caixote de madeira simbolizando o famoso e querido troninho. Ainda nessas condições, abri a porta, e que surpresa me aguardava. Parecia que eu me transportara para um futuro longo e distante. O banheiro era do tamanho de toda uma casa, e comportava todos os luxos que um lavabo poderia comportar. As paredes eram revestidas de pedrinhas verdes e redondas, que faziam parecer uma gruta. Do topo desta parede de bolinhas, uma água fina escorria, asemelhando-se a uma cachoeira. No fim desta parede, uma banheira represava a água que brotava do teto exalava o odor de deliciosos sais de banho e borbulhava espuma e espelia vapor, sinalizando água quente. Na parede uns estribos expunham lindas toalhas de linho, aprumadas e fofas, uma duzia delas esperando revolver os corpos nus dos que se banhassem na cachoeria. Tirei os tenis encardidos e larguei-os ao lado da pia em forma de concha, junto com a minha bolta, chave e celular. Andei em direção à banheira, mais para ver que para mergulhar. a banheira era enorme, compara-la a uma pequena piscina nao era em nada exagero. O fundo da banheira era de vidro, e dava para um tanque de várias espécies de peixes. Era tomar banho no fundo do mar. Estava eu ali, de pé, observando o fundo da banheira, quando as lindas toalhas, que me cobririam depois daquele banho relaxante, começaram a se debater, como se o vento as sacudisse num varal; só que não havia vento, ou varal. As toalhas estavam possuidas por alguma força que as dominava e controlava. Elas voaram medonhas e me envolveram, e envolvida doentiamente, fui atirada dentro da banheira. E eu me debatia como um peixe capturado, tentando fugir das toalhas que desejavam afogar-me. Eu subia, buscava ar, mas no fim, só respirava água. Quando as toalhas começaram a enxarcar, todo aquele sistema, que me incluia, passou a afundar. Primeiro lentamente, afundando, eu, tentando me livrar das terriveis garras das toalhas. Senti meu corpo bater no fundo da banheira, e vi, todo o movimento oceanico embaixo de mim. Queria subir, pois já não enchia os pulmoes de ar haviam uns dois minutos. Desisti e decidi me afogar voluntariamente e terminar com o desejo obscuro daquelas terriveis toalhas de tirarem a minha vida. Deixei a água entrar, mas então, o resultado contradisse as minhas espectativas. Senti alívio, e os pulmões também agradesciam o ritual da respiração. Surpresa, abri os olhos, e perplexa, me vi, na minha cama, embolada em cobertor, lençol e travesseiro, molhada de água e suor. O despertador berrava e minha irmã apontava um copo vazio, que estivera cheio antes de ela derrama-lo em mim, vacilante e tropega, levantei e rumei aos acontecimentos normais do dia. Mas tenho certeza de que a toalha me olhou um tanto diabolicamente aquela manhã...

domingo, 16 de maio de 2010

Balanço

É, em um momento a sua vida oscila.
Entristecido a colher grãos de terra no chão que pisa, a avistar o céu distante e imaculado, a querer toca-lo como se quer tocar uma mulher bonita.
É como brincar quando se era criança, o balanço dançante, tocamos o céu, ou melhor, buscamo-o, içando as mãos e bradando os braços em sinal de desespero e pisamos a terra.
E de reviravolta, o balanço sobe.
E exaltado a bater as asas no céu límpido e azul, não querer as asneiras terrenas...
O balanço que sobe e desce e não cessa, não depende de nós, mas do universo e da gravidade a jogarem a nosso favor.
E o sol brilha, em nossos desejos de Ícaro, bradamos nossas asas e visamos ao sol.
Quão relutante seriam os teimosos à ponto de se queimarem nas chamas ofuscantes do grande satélite?
Um coração outrora vazio e machucado, batuca uma nova canção, cheia de passagens rápidas e lentas. É um festival de músicas, um desfile de escola de samba, passando e se instalando no peito, de um, que mais uma vez experimenta a sensação do ar.
Mas essa deve ser a definição de paixão, ou coisa parecida.
Então, quando o balanço torna a cair?
Melhor pensar nas nuvens brancas, enquanto elas ainda me pertencem.

sexta-feira, 7 de maio de 2010

Asas quebradas


Algo estranho muta o mundo da Babilônia.

Abriram a caixa de Pandora e deixaram seus derivados sair.

E a Grande Muralha continua firme, lá na China.

Aqui as fagulhas chamuscam e despedaçam um coração solitário.

Mais que o ruir sozinho, se chamam tristes os que não vagam a buscar encontros.

E os objetivos se tornam escassos, a vista embaçada.

Talvez a palavra certa seja espaço.

Um espaço de tempo que corre sem ver.

Um espaço gigante que não me deixa enxergar.

Um espaço psicológico que só faz crescer a distancia entre dois amigos.

E se ainda assim, dois sóis nascerem amanhã, é preciso que haja vontade de ver a luz lá fora.

Que ainda existem cortinas eficientes e óculos escuros que tapem a luz que brilha.

Então, é ou não é tudo tão relativo?

Um anjo sem asas e desperançoso chora no meu quintal.

De acordo com ele, as palavras morreram no peito quando viu chorar a lua, e desde então derrama as suas.

Eu digo pra ele das belezas do mundo, ele retruca as tristezas.

Terminamos por fim, eu e ele lado a lado, dois embebedados cutucando nossas feridas expostas.

sábado, 1 de maio de 2010

Texto político

É difícil. Estamos tão acostumados com o cotidiano, que não vive-lo é um estorvo.
E queremos, inutilmente um alguém pra atender nossas vaidades, cumprir nossos mimos.
E queremos uma injeção diária de ego.
Queremos acreditar que escolhemos quem somos.
Mas não. Não escolhemos, somente somos.
E buscamos converte-mo-nos, como à uma religião ou seita.
E nos encobrimos de carapaças falsárias, que intimidam nossos semelhantes.
Então, de que adianta não o sermos, se nossos iguais se distanciam?
Talvez, esse assunto tenha se tornado cliché, acredito que tenha.
Mas por ser cliché não é menos importante ou polémico.
Ainda sonho voar, içar minhas mãos e bradar meus sonhos direção às nuvens.
E qual o problema de querer ser um anjo?
E qual o problema de querer ser alguém?
Meus sonhos são meus. Íntimos e meus, e não dizem respeito a ninguém.
E que são sonhos, além de subterfurgios da nossa própria mente que por vezes nos é usurpada?
Qual a privacidade que você tem, além da que lhe é conferida pelos muros da sua mente?
Então, não era de esconderijos que estávamos falando?

quinta-feira, 22 de abril de 2010

Angústia Romantica

Não haveriam palavras
que descrevessem com louvor
o suave e aveludado odor
que pernoitava tuas bochechas róseas
.
E se d'alguma forma
os céus desnudassem tuas curvas
nas venturas fundas acima de tuas nádegas
meus beijos calariam teus desgostos
.
E se ainda me desejaste
em mesma proporção
eternos, beijos que me fincaste
.
E d'outra platonia, mi'alma clamaria
sonharia os grãos de areia
içarem o céu em sinfonia

sábado, 20 de março de 2010

Do outro lado do mundo

Existe luar aqui, e do outro lado do mundo.
Na verdade, existe vida aqui, e do outro lado do mundo.
Existe tanto amor e tanto ódio aqui, quanto do outro lado do mundo.
Existe eu e você, assim como o outro lado do mundo.
Existe verdade, alegria, tristeza.
Existe mentira, falsidade, avareza.
Existe de tudo, quanto tudo, aqui e do outro lado do mundo.
O que me separa, deveras, da tua existência?
Se observo as mesmas fases de lua, as mesmas desgraças, as mesmas descrenças?
Existe de tudo aqui, quanto tudo, e do outro lado do mundo.
E se na verdade saborear palavras me fizesse deleitar um mar de rosas?
Existe de sombra à luz, do outro lado do mundo.
Mas não existe você.
Existe exílio.
Mas não existe você.
Existe vazio.
Mas eu não existo.
Eu morro, tanto aqui, quanto do outro lado do mundo.

sexta-feira, 12 de março de 2010

D'silêncio os Amantes.

Meus dedos desejam percorrer-te.
Meus dedos precisam desvendar-te.
Fazer com teu corpo música e sinfonia.
Meus dedos dançantes subindo a tua cintura, dedilhando nas cordas invisíveis de teu ventre uma música adocicada.
Meus lábios desejam provar-te.
Meus lábios precisam beijar-te.
Fazer com meus lábios desejo e som.
Meus lábios ociosos brincando teus seios, brincando tuas curvas nuas, banhadas de suor.
Eu preciso descobrir as tuas mentiras, arrancar tuas máscaras.
Eu te quero nua, de corpo e alma.
Eu te quero pra mim, e só pra mim, nesse instante que não pode acabar.
Eu quero teu abraço.
Eu quero tuas pernas e teu quadril.
Eu quero do início ao fim.
Não deixe esse mundo acabar. Não podemos nos tornar reféns do tempo.
Me abrace e diga que ainda me amará amanhã.
Eu brincando teus cabelos, cacheando-os nos meus dedos, furtando-lhes o odor.
A gota de suor escorrendo tua testa, e eu vendo, tamanha ousadia do suor te macular.
'Meu sonho, me segure para não escapar.'
...

quarta-feira, 3 de março de 2010

O conto dos céus


A Bruxa se rendeu aos seus próprios encantos. A Bruxa sucumbiu aos seus próprios feitiços. Ou parece que desta vez, simplesmente resolveu não intrometer-se. Talvez, não difamar a informação, tenha sido o segredo para o encontro não cair nos ouvidos perversos da Bruxa. As maldições foram esquecidas, ou por um ato piedoso, ou pela negligência. Quaisquer das alternativas, tornaram possível o encontro entre Allat e Ta'Lab, quando puderam escapar das vigias constantes à Lua. Allat e Ta'Lab juntos então. Juntos com um Ciclope e sua Afrodite e ainda Reia, mãe que era, supervisionando os Deuses brincando de mortais. Não há erro enquanto tudo corre bem. Todos rindo, brincando, relembrando os festivais o Olimpo. E a Bruxa em sua casa cai em si, e decide que então é hora de afastar Allat e Ta'Lab. A Bruxa cata na prateleira alguns itens e joga tudo no caldeirão:

-Rabo de rato, língua de sapo, mosca vesga, trepadeira. Lágrima de corvo, pena de pombo, fios de cabelo de uma virgem. Sangue de santo, veneno mortal, pedaço de pano cortado com punhal. Olho de gato, remela de ciclope, amor de Afrodite, presas de morcego. Grãos de romã, areia de inverno, água salgada, mexidos na chama do inferno.

Completa a poção, à cima do caldeirão ergueu-se uma fumaça verde e espessa, que logo tornou translúcida o encontro dos Deuses, como se observados de uma pequena janela. A Bruxa apontava e gesticulava, tecendo e repetindo o seguinte encantamento:

-O Mensageiro traga a noite, e faça descer a Lua. Que vão com muita sede ao pote, morrem na salmoura. O Mensageiro traga a noite, e faça descer a Lua. Que vão com muita sede ao pote, morrem na salmoura.

Sete vezes o verso foi dito, e sete vezes dita depois, a noite caiu. Tão rápida quanto seria de se esperar se o filme estivesse em câmera rápida. A Lua desceu. E Ta'Lab teve de despedir-se de Allat. Deveria agora vigiar a lua. Ta'Lab postou-se no céu, e Allat foi descansar, preparando-se para a sua vigília iminente. Allat chorava, triste, por ter de deixar seu querido Ta'Lab. A Bruxa ria de satisfação, seu plano dera certo. Estavam mais uma vez separados. Ta'Lab, não suportando ver as lágrimas de Allat choverem no mundo, escreveu no céu as Três Marias, onde se postou eternamente. Assim, sempre que Allat mirava o horizonte, achava seu amor, cuidando do céu.

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Espíritos da natureza


Eu senti desejo e repulsa. Você jurou e prometeu entre carícias e dedos dançando na minha nuca, uma utopia que na verdade não poderia realizar.
Eu senti amor e ódio. Você dizia os céus e a lua entre beijos dilacerados trucidando a minha boca.
Eu senti ânsia e preguiça. Você dizia seu amor fundo de mar entre abraços inacabados que morriam na praia.
Eu senti nostalgia e raiva. Você soprava meus ouvidos com palavras vivas e vermelhas que só poderiam ser mentira.
Eu senti felicidade e agonia. Você virava as costas e dizia adeus como tantas outras vezes eu previra.
Eu senti tristeza e liberdade. Você sonhava vulgaridades com mulheres fáceis que não me incluia.
Eu senti amor e alegria. Já quase esquecia você, e pra mim vivia.
Eu sentia desejo e repulsa. Num passado que não mais me cabia, você jurou e prometeu entre carícias...
Eu sentia amor e ódio. Num futuro próximo, você macularia a lua, dilacerando beijos e trucidando bocas.
Eu sentia ânsia e preguiça. Os céus me enviavam um anjo sem asas, dizendo amor fundo de mar, entre abraços que finalmente poderiamos acabar.
Eu sentia nostalgia e raiva. Me encontrava mais uma vez submissa ao amor platônico.
Eu sentia felicidade e agonia. Eu me envenenava e me tornava escrava de uma substância ilícita que aos poucos me matava.
Eu sentia tristeza e liberdade. Mais uma vez o amor me desiludia. Abandonei minha carcaça na terra, e rumei aos céus.
Eu sinto o vento voando minhas asas, quando me confundo às abelhas em busca de néctar.
E sinto meu poder limitado, quando crio árvores e pomares plantando pequenas sementes.
Faço parte dos espíritos da natureza, tomando conta da água, terra, fogo e ar; recebendo ordens das magníficas Devas; brincando com os faunos e gnomos da floresta.
Existe poesia até nas mais sombrias histórias de horror.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Não há espaço

Não existe espaço para você. Você me invade, me macula. Você estraga a minha sensibilidade. Não existe espaço para o amor. O amor me destrói, me limita. O amor estraga a minha autoridade. Não existe espaço para a dor. A dor estraga a minha dignidade. A dor me castiga, me penalisa. A dor estraga a minha confiança.
Não existe espaço para mim. O mim me transforma, me muta. O mim estraga a minha sanidade.
(Felizes são os que amam a cima de tudo. Ou felizes são aqueles que não tem a quem amar?)
Há falta. E quando falta sobra orgulho. E quando sobra orgulho, continua faltando.
Eu busco infreadamente uma maneira de me roubar de você. Uma maneira de despistar você. E o problema é que você me rouba sem saber. Você transforma minha atenção em vício. Você infringe as minhas leis. Mas você é um demonio anonimo. Você me sequestra e me domina. Não há amor. Há submissão. Uma submissão descrente. Mon agonie.

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Aposta

Eu abro a boca num grito frenético que ninguém ouve. É como se eu falasse comigo mesma o tempo inteiro. E seria mentira se eu admitisse pra mim que falo pra ninguém ouvir? Estou adentrando a cova que minhas mãos cavaram, eu grito, pra dizer que tentei viver. Mas é uma tentativa insana, pois não quero que ninguém me salve.
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Na completa imensidão do vácuo, há erro e destruição. Como uma bomba de oxigênio que explode na incompreensão da inexistência de gases. É que a verdade não é tão clara quanto abstrata. Não há certeza que cubra os vestígios do além. O além que só o crente acredita. Porque ser crente, é crer sem bases físicas, químicas, matemáticas ou biológicas. Ser crente é entender
que o que há não há, se não houver fé. Que a fé moveria montanhas Ele disse. Sabedoria e devoção, louvor ao Senhor.
É entender que há verdade nas entrelinhas, que a ilusão muitas vezes nos carrega. Há verdade no invisível. Você não ve porque é proibido.
Poderia quem experimentar o líbido do conhecimento?
Porque conhecer mata o conceito de fé.
Porque conhecer nos mata.
Um segredo tão grande, que nos corrói.
Então, de que valem nossas nostalgias? Nossas verossimilhanças?
Valem da nossa plenitude.
Uma alma voa rumo ao céu.
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Existe um quê barroco
nesse coração que embargo.
Existe um porquê intenso
nessa figura que expresso.
.
Que não dirigires à mim palavras de ternura,
se não, porém, por tua convenção.
Porque teu coração dispe o meu,
com facilidade e voracidade que assustam.
Que minha ingenuidade e fraqueza,
alimentam tua fome clichê.
E platoniza um amor obsoleto.
É como buscar das estrelas o brilho eterno,
e dos mares, as águas límpidas.
É como viver de utopias.
.
É que meu coração ainda bombeia em minhas veias o romantismo.
Meu corpo se escancara em um grito mudo.
E minha estupidez cega meus olhos burros.
Eu acredito em milagres.