domingo, 24 de maio de 2009

Animais mensageiros.

O que me surpreende é a escolha da palavra. Poderiamos dizer as mesmas coisas, com inúmeras palavras diferentes. Podemos falar uma frase educada, rearrumando as palavras e o sentido das metonímias e pleonasmos. Mas, provavelmente, o que faz diferença é exatamente a existência, ideológica ou física, das metonímias e pleonasmos. E se, por um dia, nos propuséssemos a esquece-los? Se por um dia, tirássemos do nosso vocabulário pouco rebuscado as palavras sem sentido próprio? A comunicação ainda seria feita de fato, ainda que sem o calor das emoções. Então, de que valem as palavras, se nada elas são, sem as emoções? Poderiamos nos abarrotar de palavras vazias, insistindo em explicar indecencias, que o nosso cérebro não decifra sem a decodificação das emoções. São as caras e bocas, as lágrimas e os sorrisos, as pausas nos momentos apropiados do discurso direto, o eufemismo nos momentos necessários, que mastigam a interpretação pesada para nós. Ficamos incubidos de le-las e absorve-las. Mas, se despejam em nós, uma torrente de informações nuas, medievais, não saberiamos decifra-las, ou entende-las nem que quisessemos. E é por isso que eu digo, animal racional, que nada, somos apenas capazes de tranferir e absorver mensagens já decodificadas e interpretadas. Somos só uma raça mais desenvolvida de babuínos africanos. Somos a esperança da racionalidade de uma nação.

sexta-feira, 8 de maio de 2009

Sem mais

Mais palavras, menos olhares, menos comunicação. Mais cabeça quente, mais palavrões, mais ódio e mágoa acumulados. E cada vez mais, o sentimento de culpa que me perseguia se dissipa, se dissolve como uma gota de sangue que pinga no mar. Não é que eu esteja menos culpada, mas o fato é que eu estou menos paciente ou compreensiva. O meu maior desejo é que este ano acabe, e que mais breve possível eu fuja. Fuja da casa que sempre vivi, dos olhares que sempre me preseguiram, das bocas que sempre me ameaçaram. Quero fugir e fazer da minha vida o que eu quiser. Sinto que se eu fugir, o vento vai soprar a minha face, e secar as minhas lágrimas. Se eu fugir, não vai haver mais nada, que não eu mesma. E nesse momento eu sei que serei o ser mais feliz da terra. Não vai mais haver nenhum odor putrefato saindo de bocas supostamente amigas, e nem cobranças nos olhos alheios. Vai haver um mundo azul e cor de rosa, e eu vou ser feliz e rir sozinha.
...
Solo palabras en esto.
Solo palabras para acabaren com mis engaños.
Solo palabras, o enborracharme en un bar.
...
Ele acordou, duvidou que poderia se levantar da cama. Ele acordou e decidiu que talvez fosse melhor não levantar, e não levantou, ficou ali só olhando, o sol nascendo na janela.
...
Sem mais palavras.