domingo, 20 de setembro de 2009

Uma nota rápida

Começamos a fraquejar desde que nascemos, ao dar o primeiro suspiro. Respiramos porque somos fracos, não somos fortes o suficiente pra batalhar inconcientemente contra a vida que não escolhemos receber. E ainda assim cada vez que enchemos e esvasiamos nossos pulmões de ar, caminhamos em direção à morte. Em diração à uma morte, que em geral não é desejada ou programada. Morre-se com a mesma rapidez e facilidade que vive-se. E eu vivo desde antes da biologia determinar a fusão dos gametas. Vivo desde antes de ocupar algum lugar no espaço. Vivo porque penso, questiono, suplico pela alegria de viver. Busco, além de tudo, um cantinho embaixo da árvore, com o sol emaranhado nas nuvens, um poço raso de inspiração, dando acesso à imagens e palavras imersas no subterrâneo, que sensibilisam as pessoas, e antes delas, à mim mesmo.

domingo, 13 de setembro de 2009

Ode ao Coelho

O que somos nós, além dessa vã matéria? O que somos? Não somos nada que a medicina ou a biologia explique. Não somos nada que possamos evitar. Não somos, pelo prazer de não ser. E os dias passam, e nós vagamente notamos. E no piscar dos olhos, descobrimos que somos terminais, que o fim é iminente, e que não podemos evita-lo. Evita-lo pra que afinal? O final é uma contante para todos na terra. E ter medo dele não é covardia. Ter medo é normal, todos temos. Não estar acostumado é normal, a gente aprende com os anos. É bem verdade que o desanimo me encontrou. Não há o que me faça sorrir. Mas a vida continua, não é? Nossos amigos nos deixam, nossos parentes nos deixam, é o curso natural da vida, infelizmente. Nossas lágrimas caem, tão desesperadamente que as engolimos entre os soluços, é um círculo vicioso. Eu não estava preparada. Não imaginei ter que ver nada do tipo, em milhões de anos. Não imaginei sentir nada do tipo, a minha vida inteira. Não imaginei ficar sem palavras. Completamente sem palavras. Encara-lo, no silêncio barulhento do quarto entulhado de equipamentos de um hospital velho. E querer dizer, todas as coisas que ensaiei. Todas as coisas que automaticamente eu sei que devo dizer. E saber que você não me ouve. Desfigurado. Eu não o reconheço. Mas isso já vem de tempos. O corpo não transcede a alma. A alma morre antes, ou não? Eu tenho saudades. De um tempo simples. De brincar com você, como se fossemos dois bebes. De ter você em meus braços, sem um horário estipulando que eu fizesse isso. E de falar com você, e você ouvir, e responder. Ouvir o tic tac que só o seu coração faz. Admirar astrologicamente a lua, a sua cabeça, a sua face. Ninguém substituiria, o que só você pode me proporcionar. Nesse, ou em qualquer mundo. O amor é incondicional. E por mais que eu não tenha dito isso, eu sei que você sabe, e eu sei que terei outras oportunidades de dize-lo, não é?
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A homenagem:
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Estrela do Mar
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Um pequenino grão de areia que era um pobre sonhador,
olhou o céu e viu uma estrela e imaginou coisas de amor...
Passaram anos, muitos anos
Ela no céu, ele no mar, dizem
que nunca o pobrezinho pôde com ela se encontrar.
Se houve ou não houve alguma coisa entre eles dois,
ninguém soube até hoje explicar
O que há de verdade é que depois, muito depois,apareceu a estrela do mar...

Paulo Soledade e Marino Pinto
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O sorriso há de voltar, a felicidade também.
As memórias ficarão pra sempre, independente do decorrer dos fatos.
É tudo relativo.
Menos o amor, o amor é nítido, é denso, é palpável.
O amor.
Bianca Saguie
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A história é triste e fria. Faltam ainda rima e musicalidade. Mas quem disse que a verdade é poética?
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Flávio Coelho de Oliveira
Eu espero por desfechos felizes, nessa história que eu não fui no cinema assistir.
Eu peço finais alegres, daqueles bem hollywoodianos.
Eu rezo, esperando que meus pecados sejam irrelevantes.
E eu semeio, mundos com as minhas lágrimas.
Os vendaváis e furacões atordoaram a costa leste do brasil.
Os sobreviventes ainda são desconhecidos.
A saudade permanece em nossos corações;
saudades que esperamos em breve matar.
Tão breve quanto o piscar dos olhos.
Tão breve quanto as notícias que esperamos.
O amor, de novo, é o que nos sustenta.
O amor.

terça-feira, 1 de setembro de 2009

O início, de novo.

Uma pressão constante que aprisiona meu ar, meu peito. Uma incapacidade de inspirar e expirar, como o curso natural da vida. Um suspiro ofegante, que incapaz de fazer correr o oxigênio necessário para o meu corpo, pede outros sucessivos suspiros. E de repente, quase sem notar, o escuro ficou mais escuro, e eu só sinto frio. O frio rijo do chão que se estende nas minhas costas. Só vejo, opaco, o negro. Uma luz acesa perto de mim queima minhas retinas. E como se não bastasse, uma tosse seca, aguda e constante se acomoda em mim. E sozinha, eu afundo no vão que eu mesma criei em mim. O inconsistente me chama pra uma valsa, o inconsiente aceita. E uma milonga argentina toca ao fundo. Meus pés descompassados tentam acompanhar o rítmo. E de joelhos, caio. Um apito soa agudo, anunciando o iminente fim. Como uma árvore sem raízes, meu flúido vital fica escasso. E o ar mais rarefeito. Meus olhos se abrem, pra mais uma vez verem o mundo. E eu vejo um fundo de névoa sobre um chão branco e liso, como que encerado para sempre. Uma árvore seca e sem folhas, ou explicações, brotava do chão frio e infértil. E bem longe, quase fora do meu campo de visão, uma mancha escura, alta. Ela se move, como se uma corrente de ar levemente a fizesse pender, ora pra direita, ora pra esquerda. E ela se aproxima. A luz falha. Apaga, acende (mais perto). Apaga, acende (mais perto). Apaga, acende (mais perto). Um breu. De uns 5 minutos, toma conta do ambiente. Uma mão enorme, capaz de sozinha cobrir uma cabeça inteira, posta-se no meu ombro e gentilmente me convida a levantar. Meus joelhos esticam, e no breu, a mão pega a minha, apenas com dois dos cinco dedos. Ela avança no breu, e eu avanço junto. Seus passos são lentos, pra acompanhar os meus. E meus pés, inexplicavelmente descalços, encontram uma superfície molhada. Meus pés afundam em algo que se assemelha à gelatina. E depois de uns dois passos naquela gororoba, descubro que é lama, e que, pelo cheiro, estou na selva. Cercada de árvores e insetos. A pureza invade minhas narinas, meus pulmões se enchem, e num segundo tudo some. A lama some, o ar puro some, a mão gigante some. Restam a mim, um som irritante, bip.. bip.. bip.. , e o escuro, que lentamente se dissolve na claridade. Estou numa sala grande e branca, cercada de homens mascarados e com luvas. Minha primeira reação é o desespero, pensei que fossem alienigenas, mas depois, lembrei de uma figura semelhante, médicos eu acho. Alguns dias passaram, e eu naquele agoniante quarto branco, cheio de dor, mágoa e lágrimas. A televisão chiava algum programa humorístico, comum da madrugada. E alguém entra no quarto gritando, chorando, e me abraçando. Me chamando de um nome que eu não reconhecia, assim como aquele rosto. Ela passou a tarde contando histórias, minhas, que eu não lembrava. E perguntava se havia algum problema, eu sacudia a cabeça, e via nos olhos dela, marcas da insônia, e o desespero que acontece, quando perdemos um ente querido. Mais 10 dias, e eu finalmente sai daquele lugar. O sol brilhava quente, molhando os prédios e ruas, criando reflexos inesistentes. Os carros corriam, apressados pra algo que podia ser adiado. E eu, Alessandra Freitas de Moura nos tais documentos, e tão intimamente Eu de Oliveira, sai perambulando pela sujeira das ruas. Aprendendo sabores, degustando cores e palavras. E o Eu que persistia em mim, morto, figurante de uma história sem protagonista, renasceu, por conta daquela mão gigante. E Eu não me lembro, nunca, de ter sido tão feliz.
"Por do sol
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A luz inconstante do sol
anoitece em mim
E morre, tão rápido,
que a noite nos engole"
O que é simples, não precisa de mais explicaçãoes.