domingo, 18 de janeiro de 2009

A Lenda do Faroleiro apaixonado


Faroleiro só. Faroleiro triste. Faroleiro chora. Faroleiro pisca o farol. Acende e apaga quase instantaneamente o farol. Initerruptamente. Faroleiro triste, faroleiro só. Luciana roubou seu coração. Fez dele uso só seu. Pendurou na estante como premio de consolação. Faloreiro só, chora suas mágoas. Afoga seus enganos numa garrafa de rum. Faroleiro bebado. Faroleiro triste. Tropego, sobe as escadas do farol. Faroleiro tropeça algumas vezes. Engole algumas gotas de lágrimas, algumas gotas de suor. A garrafa na mão direita, estende-se à boca. Faroleiro tolo, faroleiro bebado. Regurgita goles de angústia. Faroleiro bebado, acaba com mais uma garrafa de rum. Faroleiro triste, encontra uma garrafa de gim no soalho. Faroleiro tropego, sobe escadas. Faroleiro cai em lágrimas novamente. Faroleiro engole as lágrimas. E mais uma vez acende e apaga as luzes do farol. "Luciana, megera, prometes-te a mim voltar pra me salvar da solidão. Luciana, estás atrasada. Luciana, Luciana." Faroleiro resolve escrever uma carta à Luciana. "Luciana, eu te dei meu coração de boa fé. Você porém o recusou, e fez de tudo uma simples ilusão. Luciana, eu poderia suportar a dor e continuar vivendo como um faroleiro velho e assombrado pela solidão. Mas querida Luciana, minha vida acabou a partir do momento que recusaste meu amor. E por isso, e pelos goles à mais de rum e gim, eu desfexo a minh vida com um gesto triunfal: por mais que você tenha me magoado, quero que saibas que serei pra sempre teu. Teu (nem tão) amado Faroleiro." Pos a carta dentro da garrafa vazia de rum e foi até a janela. Faroleiro bebado debruçado na janela. Fez força para jogar a garrafa longe e causou um acidente. Caiu dos 20 metros de altura do prédio e quebrou o pescoço. Dano permanente, irreversível. Faroleiro bebado, faroleiro desiquilibrado. Faroleiro morto. Imagine as manchetes:"Faroleiro morre de amores". Mas não, não haveriam manchetes. Era só um faroleiro isolado. Acontece que em exato momento que o faroleiro cai no chão e começa a jorrar sangue na calçada cimentada à beira-mar, adentra o portão central Luciana, com uma linda rosa na mão, e um cartão ensaiado de desculpas presa à ela. Luciana corre, e chega a tempo de o faroleiro a ver:"Luciana, pensei que não viesse. Está..." Seus olhos se tornaram frios, Luciana caiu em lágrimas. Luciana coloca a rosa no peito do faroleiro e beija uma última vez seus lábios já não mais quentes. Luciana deposita o cartão preso a rosa, e fica a contemplar o por do sol no mar. "Querido homem do farol, sei que estou atrasada, mas tenho uma boa descula eu lhe garanto. Acontece que Dona Eugênia, vizinha de minha mãe, adoenceu e precisou de alguém que cuidasse dela. A boa notícia é que com o trabalho eu pude completar o valor da casa, poderemos viver juntos meu querido! Seu grande amor, Luciana" E Luciana então empurrou o corpo do Faroleiro até a beira do mar, de um jeito que a maré quando subisse o levasse para longe; deitou ao seu lado, segurou sua mão e fechou os olhos. Quando recobrasse a memória já seria tarde de mais. A notícia boa é que de um jeito ou outro eles passariam a eternidade juntos. Luciana não chegou a ler a carta que seu amado escreveu pra ela. Achou que seria injusto com ele que não pode ler a sua última carta. O amor deles foi eternisado. E até hoje algumas avós contam para os seus netos a Lenda do Faroleiro apaixonado. E Faroleiro e Luciana desfrutam da morte como jamais desfrutaram a vida.
Fim
Ps:Detalhes da foto- Ilhabela SP

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

Regra de três

Três minutos sem ar. Três dias sem água. Três meses sem comida. Três mortes diferentes. Três mortes dolorosas. Três mortes causadas por três vidas passadas sem êxito. Três meses de pensamentos abertos. Três meses imaginando coisas. Imaginando situações, imaginando diálogos. Imaginando beijos secretos no escuro que ainda não aconteceram. Regra de três. Injusta regra de três. Para quatro pessoas uma tem problemas mentais. Se três dos seus amigos forem normais, cuidado, o maluco é vc. Insanidade. Insano. Não só três, mas seis. E se eu for duplamente maluca? Por que eu deixo tudo inacabado? Por que eu não posso chegar ao fim? O que me assusta tanto? Eu sou medrosa o suficiente, pra não lutar até o fim pelo medo de não ter mais o que fazer. Pra que subir a montanha se eu posso cair dela? Você tem tão pouco a perder quando não tem nada. Tanto. Tanto. Tanto que eu perdi, tanto que ficou pra trás. Tanto que eu dexei cair das minhas mãos tentando pegar mais. Gula. Pecado. Mais vale um na mão do que dois voando. "Mas eu quero dois, não um". Solto o primeiro e não consigo alcansar o segundo. Gula. Gula por querer de mais. Por querer o que eu não posso ter. Algumas pessoas têm o que elas querem. Qual a diferença delas pra mim? Por que elas merecem e eu não?

Me abita um frio incerto.
Parece perda.
Me corta um raio certeiro.
Me divido em dois.
Dois opostos que não se atraem.
Duas pessoas que não se parecem.
Duas personaliades que não se descrevem,
não se encotram,
não se perturbam.
Chovem lágrimas cristalinas,
o sol não vem.
Viajei pra um intenso inverno.
Não há seca que suporte, o dilúvio que está por vir.
Será um desastre eu sei,
quando as nuvens se afastarem,
e vermos claramente a destruição.
O sol não morre,
mas também não nasce.
Meu sol viajou pra uma constelação distante.
Estou morando em plutão.
o Tempo não passa, o calor não me cobre.
A agonia é minha melhor amiga.
Não me abandone.
...
Emoções são científicas. A Ciencia as comprova. Hormônios que atuam no seu corpo. Hormônios, é?

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

Caverna

Pra que esse ódio todo? Estou de volta. Provavelmente meus dois leitores constantes não estão, mas isso é um mero desvio. Somos espertos. Tudo o que fazemos nos leva a algum lugar. Tudo que nós sequenciamos tem uma teoria envolvida. O altruismo é um sentimento tão raro quanto o trevo de quatro folhas. Somos simploriamente: ervilhas egoistas numa vagem narcisista. Acho que nos define bem. Somos orgulhosos e ignorantes. E além de tudo hipócritas, porque repreendemos os que agem como nós. Porque defendemos a todo momento a integração entre as pessoas. Mas quem vai ser o primeiro da manada a abaixar as orelhas e entrar na caverna escura?

-A caverna é escura, como posso saber o que há dentro dela? E os grunidos que ouvimos, será que podemos nos defender de tal ameaça?

-Vai você primeiro, depois eu vou!

-Pra que entrar na caverna? Aqui nós temos sol, água, e árvores.

A história nua e crua: ninguém cede de seus privilégios pelo desconhecido. Ninguém se arrisca, ninguém se opõe. Mas é bom. O orgulho nos impulciona para frente. O orgulho, e a inveja. Quem inveja outra pessoa, vai buscar de tudo para ser melhor. Então de certa forma, todos deveriamos ser orgulhosos e invejesos. O problema é que eu acho que já somos. Somos e negamos. Somos e mentimos. Mentirosos. Somos também. Somos uma corja de sentimentos deploráveis que atuam em prol da humanidade. E as vezes eu me pergunto onde foi que ficaram estacionados no tempo o altruismo, a juventude, a ajuda. Em algum lugar antes da primeira guerra mundial. Não. Em algum lugar antes da existência dos políticos. Não definitivamente, é com pezar que eu digo que Cristo não foi o único a ser crucificado naquele dia. Em que um homem o delatou-nasce ai o dedo duro.

Martela, cabeça, martela.

Martelam sentimentos alheios.

Martela, cabeça, amarela.

Martelam certesas e devaneios.

Martela, ajuda, amarela.

Martelam tambores e tumbas.

Fazem festa na minha cabeça, um desfile de carnaval.

Martela, ajuda, martela.

Martelam por puro prazer.

Martela, martela, martela.

O martelar soa num sono profundo.

Um ruido que se torna mais fraco.

Um sonho do qual não acordo.

Martela, martela, martela.

Meu coração pulsa o seu último martelar.

...

"É mais fácil cultuar os mortos que os vivos. Mais fácil viver de sombras que de sóis. Mais fácil mimeografar o passado que imprimir o futuro. Não quero ser triste, como o poeta que envelhece lendo Maiakóvski na loja de conveniencia." (Zeca Baleiro)