sábado, 17 de março de 2012

Distante

Que o brilho dos olhos teus
já não ofusquem os meus, entendo...
Não entendo o não olhar dos meus
fixos nos teus, ao relento...

Que a carne da boca tua
já não habite infinda a minha, entendo...
Não entendo o não procurar da minha
loucamente pela tua, ao relento...

Que a doçura das mãos tuas
já não tateiem loucas as minhas, entendo...
Não entendo o não tatear das minhas
frenéticas pelas tuas, ao relento...

Que a poesia dos lápis teus
já não se direcionem ao coração meu, entendo...
Não entendo o não encaminhar das minhas
ao teu coração, ao relento...

Falta rima para falar do teu sorriso,
que já não paira no meu olhar, e entendo...
Não entendo o meu sonhar todas as noites
com este semblante, ao relento...

quinta-feira, 1 de março de 2012

Desabafo

Sou só um pobre sonhador, percorrendo sozinho os caminhos nocivos desde mundo de grande terror.
Eu sou só mais um entre os tantos outros a pisotearem a grama apesar das tantas placas de "não pise". Sou um dos pobres mendigos a implorar por esmola, para a compra de meu alimento. Alimento tão contestado que não se encontra nas prateleiras. Alimento feito de dor, uma banalidade como a necessidade carnal do sexo. São tantas as voracidades que me açoitam na noite estúpida, que martelam persistentes as minhas têmporas, que mastigam e fatigam o meu pensar...
Eu não posso dormir à noite, nem pensar meus pensamentos nulos, ou alimentar-me de sonhos turvos. Sou apenas um morador, com a mente vazia de idéias, a barriga vazia de esperanças, os pés vazios de sonhos e a voz vazia de objeções.
Eu só estou cumprindo o meu papel nesta novela, pelos miseráveis reais que ela me proporciona. Eu, figurante desta vida eterna, caibo à mim e respondo à mim, como um ser adimensional, atemporal e marginalizado. Eu sou um ser sem espaço no mundo. Um ser que não cabe à nada, nem à ninguém.
Acho que na verdade eu sou ninguém: impetuoso na majestade de ser errado... Apenas um calafrio na noite apavorante.
E sabe qual a pior parte?
Eu sou Você.
Somos todos um uivado em uma noite fria. Despertados em uníssono, somos os verdadeiros comensais da vida. Já que tão detalhadamente compreendemos a morte. Só temos um profundo pavor de encara-la, claro! Pois sabemos que dessa disputa não sairemos vivos.
Mas pode afinal, morrer uma criatura tão desnutrida de vitalidade?
Pode desfalecer, se não possui um resquício de identidade?
Volto a dizer: eu não caibo no mundo! Nem eu, nem você, nem ninguém!
Mas agora o importante: será que este mundo cabe em mim?
Essa verdade é a pergunta que vigora em mim a todo instante.
Que eu não pertenço ao mundo eu já sei! Creio que já nasci sabendo...
Mas será que esse mundo pertence à mim? Ou é só uma questão de comodidade?
Eu li uma vez que a grande resposta era 47.
Mas alguém faz real idéia de qual a pergunta?
Enquanto isso, caminho com este penar. Uma resposta sem pergunta. Tal como um remo sem barco: um olho que é incapaz de enchergar...
Ponto... final (?)