terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Vertigens

Novo dia, novas lembranças, novos segundos que passam. Novos grãos de areia aparecem, novos grãos de areia somem. A praia ondula, ela dança, uma dança nua, vulgar. Os grãos de areia molhados, colam nos pés. Os pés sujos de areia caminham pela calçada. A calçada quente do sol de verão se enche da poeira marinha. Combinação perfeita. Amanhã é natal. Devo saudar o nascimento do menino Jesus. Amanhã. E por que eu não me sinto com a menor vontade de faze-lo? Posso comemorar o seu nascimento assistindo a um filme hollywodiano barato? Comendo pavês e brigadeiros? Ah, amanha é natal. Não quero seguir a clichê troca de presentes. Não quero presentear ninguém a não ser a mim mesma. Eu sei é egoista, mas eu sou egoista e isso é um fato. E o meu egoismo me sustenta. Como uma bengala sustenta um corpo cansado. Quero afogar minhas mágoas num copo de coca-cola. Quero afogar minhas mágoas naquele filme que eu vi um dia ("Pele morena" se não me engano). Quero afogar minhas mágoas, e isso é o mais sólido que consigo escrever. E só pelo fato de escrever, sinto as mágoas esvaindo, as dores correndo, e a alegria brotando, como água nascente. Alegria, talvez. Risos transbordam facultativamente nos meus lábios. Ao mesmo tempo que lágrimas brotam de meus olhos de repente. Lágrimas sem precedentes. Lágrimas sem precedentes... Lágrimas sem moral, lágrimas quietas, que não secam. Lagrimas que envelhecem meu rosto, cada vez mais. É um coma conciente. É um coma. Sorria, você está sendo filmado. Pra que sorrir? Só porque alguém em algum lugar está me assistindo? Que se foda. Quero mais é dar o dedo do meio! Alguém me ve e não o vejo. Me parece meio desigual.. Sorria, você está sendo espionado. Me parece uma frase melhor e mais verdadeira.

-Olá, como vai você?
Só passei pra dizer:
Te amo.
-Vou bem, obrigada pela visita!
Sinto te informar, não te amo.
-Não me ame.
Ama-lo já me basta.
-Não te incomoda saber que não é reciproco?
-A reciprocidade é um prêmio, ama-lo é a felicidade incondicional.
A duresa dos anos que passam, acontece o reencontro, no mesmo portão, das mesmas pessoas, com os mesmos sorrisos, destinos semelhantes, histórias mudadas:
-Olá, como vai você?
Só passei pra dizer:
Não te amo mais.
-Vou bem, obrigada pela visita!
Os anos lhe foram companheiros.
-Adeus, já vou indo, tenho pressa.
-Passar bem!
O interior do outrora amado e agora desamado lhe diz:
Sinto que perdi o que jamais possui, eu o amava.
...
Eu teno vertigens. Adimito-as. Todos possuimos umas dúzias delas. Vertigens. Encheriam a página, caso quizesse nomea-las. VERTIGENS.

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