quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Reveillon

Parece que o tempo passou por mim sem que eu pudesse nota-lo.
Dias, logo se transformaram em semanas, e estas em meses. Como se os meus dias não fossem longos. Como se eu não sentisse, que eles se arrastam, passando incrivelmente devagar, vagarosamente lambendo as sobras de um doce incrivelmente raro. Todos os dias assim. Dias que passam com gosto de semanas. Uma decisão que se torna cada vez menos certa, como se o tempo tirasse a autoridade de algo pouco consistente. E eu esperando, agonizando, descolorindo palavras e tornando-as, funebres. Como um enterro sigiloso, numa tarde chuvosa de domingo. Não, claro, todos merecem seus descansos. Nada que não melhore com a chegada de mais um fim de ano. É como se essa virada especial do dia 31/12 para 01/01 fosse a enxurrada de cores, de lápiz de cera a colorir um céu amargo. Esse céu amargo, que no início do ano, todos fingem que não veêm, mas que todos sofrem com a sua existência. Sim. É como se o passar dos minutos fosse capaz de limpar o que ficou de sujo. E tirar os vestígios do que não foi. Mas o que não foi, continuará não sendo, ora pois, acabou. Assim como a prorrogação do jogo, assim como o badalar dos sinos, cessou. E por cessar nos impõe como índole, a fraqueza. Sim, porque somos tão fracos quanto as gramíneas secas da ausência de chuvas. Nós nos alimentamos de ego, e se a fonte desse ego morre, morremos também, na incompetência de nossas virtudes. Sim, incompetentes, como um servo punindo a si mesmo. Como a dor, ordenando a si própria. Como as regras que nos impomos, e não sabemos cumprir. Não, não é impossível, só não somos assim, ainda. Só não evoluimos à esse ponto. Não, porque a evolução é milenar, a evolução é o maior dos ancestrais, a mais longa dos ballets, a mais estúpida das brincadeiras. Não, não a mais estúpida. Não supera a mentira que contamos a nós mesmos. Aquela em que realmente acreditamos. Sim. Tudo há de acabar, mas por hora, precisamos suportar, e esperar para que trinta e um de dezembro chegue antes de explodirmos.

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