terça-feira, 1 de setembro de 2009

O início, de novo.

Uma pressão constante que aprisiona meu ar, meu peito. Uma incapacidade de inspirar e expirar, como o curso natural da vida. Um suspiro ofegante, que incapaz de fazer correr o oxigênio necessário para o meu corpo, pede outros sucessivos suspiros. E de repente, quase sem notar, o escuro ficou mais escuro, e eu só sinto frio. O frio rijo do chão que se estende nas minhas costas. Só vejo, opaco, o negro. Uma luz acesa perto de mim queima minhas retinas. E como se não bastasse, uma tosse seca, aguda e constante se acomoda em mim. E sozinha, eu afundo no vão que eu mesma criei em mim. O inconsistente me chama pra uma valsa, o inconsiente aceita. E uma milonga argentina toca ao fundo. Meus pés descompassados tentam acompanhar o rítmo. E de joelhos, caio. Um apito soa agudo, anunciando o iminente fim. Como uma árvore sem raízes, meu flúido vital fica escasso. E o ar mais rarefeito. Meus olhos se abrem, pra mais uma vez verem o mundo. E eu vejo um fundo de névoa sobre um chão branco e liso, como que encerado para sempre. Uma árvore seca e sem folhas, ou explicações, brotava do chão frio e infértil. E bem longe, quase fora do meu campo de visão, uma mancha escura, alta. Ela se move, como se uma corrente de ar levemente a fizesse pender, ora pra direita, ora pra esquerda. E ela se aproxima. A luz falha. Apaga, acende (mais perto). Apaga, acende (mais perto). Apaga, acende (mais perto). Um breu. De uns 5 minutos, toma conta do ambiente. Uma mão enorme, capaz de sozinha cobrir uma cabeça inteira, posta-se no meu ombro e gentilmente me convida a levantar. Meus joelhos esticam, e no breu, a mão pega a minha, apenas com dois dos cinco dedos. Ela avança no breu, e eu avanço junto. Seus passos são lentos, pra acompanhar os meus. E meus pés, inexplicavelmente descalços, encontram uma superfície molhada. Meus pés afundam em algo que se assemelha à gelatina. E depois de uns dois passos naquela gororoba, descubro que é lama, e que, pelo cheiro, estou na selva. Cercada de árvores e insetos. A pureza invade minhas narinas, meus pulmões se enchem, e num segundo tudo some. A lama some, o ar puro some, a mão gigante some. Restam a mim, um som irritante, bip.. bip.. bip.. , e o escuro, que lentamente se dissolve na claridade. Estou numa sala grande e branca, cercada de homens mascarados e com luvas. Minha primeira reação é o desespero, pensei que fossem alienigenas, mas depois, lembrei de uma figura semelhante, médicos eu acho. Alguns dias passaram, e eu naquele agoniante quarto branco, cheio de dor, mágoa e lágrimas. A televisão chiava algum programa humorístico, comum da madrugada. E alguém entra no quarto gritando, chorando, e me abraçando. Me chamando de um nome que eu não reconhecia, assim como aquele rosto. Ela passou a tarde contando histórias, minhas, que eu não lembrava. E perguntava se havia algum problema, eu sacudia a cabeça, e via nos olhos dela, marcas da insônia, e o desespero que acontece, quando perdemos um ente querido. Mais 10 dias, e eu finalmente sai daquele lugar. O sol brilhava quente, molhando os prédios e ruas, criando reflexos inesistentes. Os carros corriam, apressados pra algo que podia ser adiado. E eu, Alessandra Freitas de Moura nos tais documentos, e tão intimamente Eu de Oliveira, sai perambulando pela sujeira das ruas. Aprendendo sabores, degustando cores e palavras. E o Eu que persistia em mim, morto, figurante de uma história sem protagonista, renasceu, por conta daquela mão gigante. E Eu não me lembro, nunca, de ter sido tão feliz.
"Por do sol
.
A luz inconstante do sol
anoitece em mim
E morre, tão rápido,
que a noite nos engole"
O que é simples, não precisa de mais explicaçãoes.

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