João

Não.
Ele não possuia nada de especial, mas ainda assim é o protagonista da história.
João, por falta de nome melhor, que vivia só.
Vivia só, entre aspas.
João possuia grande família, muitos amigos e até um amor.
Mas João se sentia só.
A sua dor, e a sua mágoa eram suas.
Ele não aprendeu a dividi-las.
Então, sozinho e solitário, João vivia.
Acordava, trabalhava, trabalhava, dormia.
Dia após dia.
E sua única dose de vida, vinha acompanhada de uma dose de 51.
Quando ele virava poeta, e escrevia suas rimas.
João, morreu sozinho.
Sozinho, entre aspas.
Pois em seu enterro haviam tantos conhecidos despedindo-se.
Mas sua companheira de vida, a boa idéia, não estava presente.
E ironicamente um verso seu foi dito:
"Entre as flores um sorriso se desfaz,
como tantas vezes isso aconteceu
Mas isso não é motivo de lagrimas,
acontece desde que o mundo nasceu"
 

Novo eu

Eu andei perdido, eu sei.
Andei perdido, e longe daqueles que me poriam no lugar.
Mas eu voltei.
Voltei, antes de chegar longe de mais, de um caminho cuja minha sina nunca foi caminhar.
E hoje, mais esperto e valente, me ponho no caminho que me pertence.
Vou sonhar mais alto do que um dia sonhei.
Vou buscar conquistas mais importantes do que conquistei.
Porque eu prometo... que daqui pra frente, vai ser diferente.
Quero mais sinceridade, mais honestidade, mais amor.
Quero mais capacidade, mais unhas e dentes, mais determinação.
Porque tudo bem se eu não conseguir, mas eu quero tentar.
Tentar, com o maior empenho que eu tenha.
E é por isso que me desculpo, àqueles que não conheceram esse novo eu.
Mas não adianta só falar...
Eu preciso provar o que estou falando.
Então, queridos, aguardem e vejam.
Porque o novo eu está começando...

Carta à Friburgo

Manhã fria
começa novembro
A noite tardia
não chegou ao relento

A amante sozinha
relembrou o tempo
Que do amor companhia
era vento certo

E de tanto clamar à lua...
Ó lua, em ode, poderosa
permiti-me alcansar alegria

E de tanto chorar aos Deuses
Ó Deus que tanto vê
deixei-me amar os olhos seus

Meteorologia

Não há dependência saudável.
A partir do momento que você se anula por outro ser, você esquece quem é.
Pior é quando o outro não vê, e só faz novas exigências de poder, novas exigências de mudança.
Eu já esqueci quem eu era há um ano atrás, ou a dois, ou três.
Sinto que cada dia me enterro mais fundo em uma cova na qual ainda não escrevi o nome do defunto.
Eu jogo terra pra tapar o caixão, sem saber que o cadáver sepulcrado ali, é o da minha personalidade.
Então não é mentira admitir que eu não existiria sozinha.
Não existiria, porque a pessoa que eu fui antes já não existe.
Sobrou um vulto triste e solitário, da pessoa feliz e espirituosa que eu costumava ser.
É inverno, faz frio intenso, e não há previsão de sol quente para os próximos dias.

Tango de Buenos Aires

Ainda que me delongasse,
pelas milongas de Buenos Aires
jamais escreveria que completasse,
mi'alma em rubor por tanto amar te.

E por não encontrar sofisticada palavra
em escravidão meu corpo fatiga
Pela busca eterna de adjetivo que descreva
o imensidão do amor que me fustiga.

Não saberia calar te os lábios se não com os meus
sedentos de tua carne rósea a cintilar
Não saberia conversar se não pelos olhos teus
que me dizem o que nem as palavras podem falar

E por esse amor ser insensato e inexplicável
calo me neste verso sujo,
para que não ultraje sentimento solene que por ti nutro
com palavras terrenas que o sereno temem.

Eu de presente a ti

Eu nunca pensei que poderia sentir.
Nunca pensei que fosse chorar, insonie a tua falta.
Eu que nunca precisei de ninguém pra me amar.
Logo eu.
E hoje, que te quero tanto, inconsciente.
E eu que te preciso de mais, que sonho com a tua presença.
E eu que te queria aqui comigo, hoje a noite.
Para me abraçar, me amar.
E eu que te amo tanto, eu que te desejo tanto, eu que seria unicamente sua, se você apenas sugerisse esta ideia.
Eu que te amo, eu que te quero, eu que sou sua.
Como nunca fui de ninguém.

O labirinto do fauno

Noite nuviada, sem luar
empírica, desfacetada
As estrelas sem brilhar
dos enamorados ocultada

Na escuridão suprema
nem ao menos um tintilar
De luz perene eterna
nem se viu falar

E nesta noite escura
desprovida de ressonar
Tantos amantes à procura
de seu eterno amar

Corpos nús desfigurados
estretidos à uma dança espetacular
em milongas inebriados
pasmos de tanto bailar

O povo da floresta
veio então prestigiar
Fez daquela festa
algo particular

Até hoje não se sabe explicar
o que houve em tal ponto
Mas aquela noite sem luar
pariu a primeira leva de loucos

E até hoje eles estão
na terra em todo lugar
Somos filhos em função
da floresta, nosso lar

Queda

Eventualmente, a popularidade dá uma queda.
Geralmente, você nem liga, porque não tá muito afim de ser popular.
Entretanto, eventualmente, só eventualmente...
Você pode estar num dia em que precisa ser alguém.
E não adianta você se dizer e tentar convencer de tal, mas precisa, necessita, quer, que um outro o diga.
E nesse momento, você decide que não quer mais pseudonimos, e esconderijos.
Você quer ser você, e quer que isso seja suficiente para o resto do mundo.
Então, você, sabendo que essa dor existe e é macabra, trate de se concientizar, e ser bonzinho com o coleguinha.
Assim sendo, sinta piedade, e elogie as pessoas, quando elas precisam ouvir que são boas.
Isso me inclui, em alguns momentos.
Tais como este.

Solstício

O seu sorriso ofusca o sol.
Quanta poesia mais eu posso fazer dito isso?

O seu olhar esvazia o mar.
Quantas palavras mais posso rimar depois disto?

O seu coração faz o meu pulsar.
Quanto tempo mais poderei viver em teu domínio?

Os seus olhos loucos

A vastidão do mundo cabe nos seus olhos.
Os seus olhos loucos que me deixam inebriado.
A vastidão do mundo, que eu acho nos seus olhos, e que me perdem de tudo.
Os seus olhos loucos, que me confundem, me hipnotizam.

O silêncio do universo cabe nos seus lábios.
Os seus lábios suplicantes que me deixam afobado.
O silêncio do universo, que mora em seus lábios, e que me deixa inquieto.
Os seus lábios suplicantes, que me confundem, me hipnotizam.

O planeta inteiro cabe nos seus dedos.
Os seus dedos sábios que me deixam impotente.
O planeta inteiro, que vive em seus dedos, que me privam de atitudes.
Os seus dedos sábios, que me confundem, me hipnotizam.

A angústia dos amantes cabe no seu sorriso.
O seu sorriso fácil que me deixa atônito.
A angústia dos amantes, que transita seu sorriso, que me paralisa.
O seu sorriso fácil, que me confunde, me hipnotiza.

Mas não achei lugar,
nos seus olhos loucos,
lábios suplicantes, dedos sábios, sorriso fácil,
que me comprovasse que você pode amar.

E tão perdido,
nos seus olhos loucos,
lábios suplicantes, dedos sábios,
não busquei saber por qual razão
se privou de tal.

Quando tão maluco,
por seus olhos loucos,
lábios suplicantes,
também meus lábios desataram,
pelos seus suplicar.

Mas como você, do amor,
havia se privado,
só me sobrou indignação
dos seus olhos loucos.

Sonho

Me procure nos porta retratos
me encontre nas lembranças
Me procure nas roupas
me encontre nos lenços
Me procure nos grandes
me encontre nos pequenos

Tudo fluirá, contanto que você prossiga a me buscar.
Tudo existirá, enquanto você amar a mim.

Tudo continuará e perpetuará, enquanto eu daqui, vir suas lágrimas
não tristes, mas de saudade, de ternura.

Tudo estará bem, enquanto eu estiver no seu coração: sorridente, palpitante.

Mas não mude os móveis de lugar, eu me fui do seu redor, mas não se engane.
Eu ainda lhe habito: nos sonhos, nas preces. Estar sempre ei, em teu pensamento.
Portanto a minha vida, só depende de você; não me deixe morrer.
***
Algumas vezes a postagem por si só se explica sozinha, mas na verdade algumas vezes julgo serem necessárias algumas notas de rodapé. Em geral não as posto, ou por falta de dedicação, ou simplesmente por acreditar que os leitores serão tão poucos, que a explicação boca a boca bastará. Entretanto, hoje me sinto uma autora incrivelmente dedicada, e vim por esclarecer um pouco a temática do texto.
Todos que acompanham o blog por algum tempo, ou a mim, sabem que perdi meu avô, há pouco mais de um ano, e este texto surgiu, por uma mistura de emoções a que me submeti esta semana. Em primeiro lugar, minha avó comentou ter sonhado com ele, e o texto começou a se esboçar, antigas emoções ressurgiram, antigas lágrimas desceram, por dutos que eu julgava secos. Depois, em algum momento, eu acabei por assistir, um programa que travava a temática da paternidade, e do sentimento dos filhos para com os pais, na ocasião, eu estava com a minha mãe, que no lugar de perder um avô, perdeu um pai, e então lembrei ainda do sonho de minha avó.
Acabou por sair esse texto, que pode agradar ou não, e pode ainda não ser lido. É uma dúvida a que nos sujeitamos sempre que escrevemos um novo rabisco e jogamos pela janela.
Bem, cabe a você, leitor solitário, aprovar, ou não este texto.
Boa noite.

Bipolar

As emoções oscilam.
O sentimento humano é muito mais volúvel que se possa parecer.
Bipolar, é o diagnóstico que os psicólogos destinam aos que sofrem agudamente desse padecer.
Bipolaridade.
Só por transitar da alegria a tristeza, e desta à euforia, e desta ao desespero, e deste à ânsia, e assim, indefinidas vezes ao correr do dia.
Só por não decidir.
Só por trocar.
Esse diagnóstico isenta os humanos de serem mais do que querem ser.
Esse diagnóstico, limita as expansões do ser.
Esse diagnóstico termina com as angústias.
Bipolar.

Prece

A ti, felicidade.
A mim, toda a felicidade que puder doar a ti.
A ti, amor.
A mim, todo o amor que puder transmitir a ti.
A ti, prosperidade.
A mim, toda prosperidade que mimar a ti.
E que talvez, em teu coração feliz,
amado e próspero, haja espaço para amar a mim.

Verso voado

É tão fácil se magoar.
Esse mundo não liga pro nosso individual.
Essa é uma preocupação que cada um deve ter com seu cada qual.
Por que?
Porque tem gente de mais pra dispersar preocupação a toa.
E o encanto acaba.
Fogo que é de palha apaga.
Vento que é de sopro enfraquece.
Então nada de torcer para que o feitiço vire contra o feiticeiro.
Não dá tempo de rogar pragas.
Aceitemos nossas chagas, carreguemos nossas feridas.
E cabeças erguidas para a próxima batalha.

Aos oito

Hoje eu posso olhar nos seus olhos e ver o futuro pela frente.
Hoje eu posso segurar a sua mão e entender que não acaba.
Hoje eu posso sentir seus lábios e saber que são meus.
Eu não preciso de cartas, nem de poesias.
Eu não preciso de presentes, nem de muito.
Eu só preciso desse sentimento.
Dessa ansia ao olhar nos seus olhos.
Dessa calmaria ao segurar a sua mão.
Dessa certeza ao te beijar.
Eu só preciso de que você seja meu, e eu seja sua.
Isso basta no meu mundo ideal.
E eu estou aqui, de braços abertos pra você.
Como estive, e como estarei.
Sua, irredutível, constante.
Aos oito, saudações.
<3 L

Miséria

O erro foi meu.
Eu te mostrei como me tratar.
Eu te ensinei.
Apesar de desejar uma coisa, fui vivendo, deixando pra lá minhas ideias, aceitando os seus conceitos.
Eu te ensinei a errar e não pedir desculpas.
Eu te ensinei a achar que nada podia dar errado.
A culpa foi minha.
Eu disse que não era como as outras,
mas deixei você me tratar como elas.
Eu disse que não era como as outras,
mas agi segundo o conceito delas.
Então, não quero mais ouvir suas desculpas.
A culpa é minha.
Eu assumirei o fardo.
Me perdoe por fazer perder o seu precioso tempo.