...
Minhas pupilas dilatadas,
meus cabelos da nuca em pé,
minhas mãos, mais frias que nunca, escorregavam pelo corrimão, tamanho era o suor.
Meus pés, vagarosamente, davam um passo atrás do outro.
Temerosos, da surpresa que iminentemente eu encontraria.
O som que irradiava da saleta no fim da escada, fundia-se com os meus pensamentos,
tornando o pavor cada vez mais denso e palpável.
Nos últimos degraus da escada, meus joelhos fraquejaram,
e por um momento eu pensei que cairia de joelhos.
Agarrei o corrimão com a mão que me restava,
e fazendo um enorme esforço, eu consegui chegar ao fim da escada.
Meus olhos piscaram rapidamente, minha cabeça rodava,
botando e tirando a antiga lareira de foco.
Tudo ficou escuro.
...
Acordei, numa sala escura, sem saber como havia chegado ali.
Mais tarde, vim a reconhecer a sala como a de minha casa,
e logo me encaminhava para o banheiro, para uma duxa de duas longas horas.
Meu corpo estava repleto de arranhões e lama.
Escoriações que eu não lembrava de quando havia adquirido.
A única coisa que eu lembrava, era de uma lareira, queimando vivo,
e uma cadeira de balanço, sacudindo em suas proximidades.
...
Dormi, sem saber se tudo aquilo havia mesmo acontecido.
Mas o pesadelo me acompanhou, para sempre.
...
Sorrio, embora minha imagem interna se destoe.
Sorrio, embora não encontre tempo pra tirar as manchas de esmalte das minhas unhas.
Sorrio, embora minha dor me consuma todas as noites.
Sorrio, pelo simples ato de sorrir, tão costumeiro e passageiro.
Enquanto minhas memórias se desfazem, como carne em putrefação.
Sorrio, e vou perdendo cada vez mais um pouco de respeito, alegria, e principalmente sanidade.
Porque a cada suspiro, minha carne se torna mais fraca,e minha mente mais obtusa.
Comemoramos os anos passados ao contrários.
Tememos a morte, e fazemos de tudo pra evita-la, mas cada ano que damos em sua direção, comemoramos.
Comemoramos o que?
Mais um ano de orgasmos bem vividos, ou de impotencias destoadas.
Comemoramos mais um dia de mágoas, menos um dia de vida.
Comemoramos a tolice de amar, de lutar, de querer.
Enfim, comemoramos, porque é a única coisa que sabemos fazer.
Caso contrário, a crise nos assoma, nos atola, nos engloba.
E como pequenos ratos, engasgados com o veneno, nós morremos sufocados pela impotencia de fazer algo diferente.
Talvez, eu esteja caminhando na direção contrária.
E a correnteza esteja sendo teimosa em me trazer pra trás.
Acredito realmente nessa teoria.
Mas, eu tenho que tentar, enfrentar essa agonia, enfrentar esse medo palpável, que cínicamente dança na minha frente.
A indelicadesa me convida para o baile, e eu venho há muito rejeitando essa convocação, temo que a curiosidade me embrulhe.
Chovem lágrimas, lágrimas que choram sozinhas as suas inconcistências.
Tão diferentes do meu medo, elas são inseguras.
E o meu medo avança, com tamanha ferocidade, que eu acredito que atropele o descuidado que pousar em sua frente.
Acredito que atropele os sentimentos que focam a minha paz.
E eu não consigo enxergar por entre os embaçados dessa manhã fria.
É um pesadelo intemnável.
Espero, que daqui a pouco o despertador comece a lutar com o meu sono, e eu acorde com o rosto suado (foi um sonho, o pior já passou).
Está tudo em negativa, a perspectiva foi lançada, é tudo depreciativo.
E a depressão se mostra uma amiga constante e inoportuna, como uma sombra, numa rua escura.
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