quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Fim

Existe um cansaço.
Que não se controla.
Ele se apodera.
Flui pelas suas veias e artérias, se instala no seu coração e pulmões, e espalha, para todo o corpo.
Um cansaço que faz apodrecer seus órgãos, lentamente.
Letalmente.
E é inesperado, inexpressível.
Uma hora você está, na outra já não.
É como se de repente tudo fosse tédio, sombras e marcha fúnebre.
E eu já passei por isso.
E eu já lutei contra.
E não encontro novas forças para lutar.
Estou frágil e cansada.
E me sinto só.
Como só?
Me sinto sozinha, num mundo que só deseja me pisotear.
Me sinto insegura.
Me sinto infeliz.
Sinto angústia e desanimo.
Sinto...
nada sinto.
Uma velha chaleira repousa sobre o fogão à gás.
Chiando o vapor d'água que escapa, avisando que o café já pode passar.
Mas não adianta chiar, a casa está vazia, não tem ninguém pra transformar a água em café.
A chaleira berra, até toda água evaporar.

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Algodão doce

Me pasma a maneira como as coisas são efêmeras.
Me impressiona a maneira como o céu fica nublado da noite para o dia.
Me embasbaca a maneira como as palavras ferroam e ferem os ouvintes.
Me magoa, me entorpece, me maltrata.
Me torno um farrapo, andando com panos rotos, embrulhando minha pele fria.
Tudo isso porque parece que é pau, é pedra, é o fim do caminho.
E se for pau, pedra e fim do caminho;
que faço com o resto?
Que faço com as outras palavras, com os outros gestos?
Que faço com os abraços e beijos?
E se for nada, esqueço?
E se esqueço, não lembro.
Dor.
Porque os meses consomem rapidamente o que os anos cuidadosamente criaram.
Se devoram, tamanha a voracidade do ato.
Cobras disputando o reino.
Com seus venenos escorrendo pela terra.
E se cobras reinam um mundo malévolo, que neste seria a mais inofensiva, a do veneno mais fraco, não menos letal.
E que se de ventos se fazem os furacões, o bater das asas de um mosquito são capazes de causa-lo.
E se o causam?
E se o causam pequenas coisas acarretam em coisas gigantes.
E dai, que fazer?
Se jogue da ponte, tome chumbinho, amarre uma corda ao pescoço.
Mas então, saiba que você entregou os pontos antes do fim do jogo.
Então, que fazer?
Perdoe-se, perdoe os outros.
Esqueça os pequenos problemas.
Esqueça as pessoas que te perturbam.
Esqueça quem não te dá valor
E se, você conseguir esquece-los, terá ao seu redor, apenas coisas boas e pessoas boas para aproveitar.
Então, se você é capaz de fazê-lo, liberte-se.
Voe, livre.
O vento vai te ajudar a alcançar as nuvens.
E eu quero estar de mãos dadas com você, quando juntos provarmos do doce que são feitas as nuvens.

sábado, 7 de agosto de 2010

não cabe

Eu realmente me pergunto onde foi parar aquela mulher confiante.
É, aquela, que anda na rua com o seu salto alto e rebolado definitivos, e que não precisa de palavras pra saber que estão todos olhando pra ela.
Aquela, que faria qualquer coisa.
Aquela super mulher que não duvida de sua capacidade de nada.
Aquela.
Onde está?
Ah, escondida atrás da menina.
Da pequena menina amedrontada com medo do escuro.
É, aquela boba, tola, de sorriso acanhado.
Aquela moça ali, tão indefesa e inofensiva.
Tão comum, tão comum.
Não mais há que explicar.
A muralha desabou.
E ela está só, com os restos do muro que construiu.
Abaixe a cabeça e chore.
Não cabem títulos ou denominações.
A lágrima escorre dos olhos do palhaço.
Sabe como dizem, casa de ferreiro, espeto de pau.