quinta-feira, 23 de abril de 2009

Mais um conto de amor

Sonhava acordado. Como em uma outra tarde monótona qualquer no trabalho. Lia os relatórios semanais porque era sexta feira. Via o corre corre da sexta feira, pessoas saindo, desejando bom fim de semana. E ele em nada pensava, nada que não a hora que saisse daquele lugar e pudesse se sentir livre. Ela já deveria estar saindo, e em breve ligaria para ele perguntando onde ele estava, e ele diria que estava chegando, que não se preocupasse. Ah, como aquilo o engolia, ele desejava que desse logo cinco horas e ele pudesse ir, pudesse encontra-la. Ela, sentada no chafariz da praça em que eles sempre se encontravam às sextas feiras, o cabelo solto ao vento, os olhos distantes, a boca se movendo suavemente, cantarolando alguma canção dos beatles, a blusa colada no seu corpo, pelo suor do dia, as pernas crusadas, num elegante ângulo, a saia caida, pendendo para um dos lados. Tão linda, ela provavelmente não saberia o quanto um homem poderia acha-la sensual. O celular tocou, tirando de seu pensamento toda aquela imagem linda, todo aquele pedaço de mulher, esperando ele, sentada ao chafariz. Era ela, dizia com a voz tranquila e morna que estava indo para o ponto de encontro, ele olhou para o relógio em cima da escrivaninha, 16:58, ele disse que estava saindo também. Eles disseram então que estavam anciosos para se verem, e ela disse que estava pensando em deixar o rumo do encontro fluir. Isso o deixou maluco, e mais ancioso ainda. Eles desligaram, e ele saiu correndo dali. Passou na floricultura e comprou uma rosa, não por achar o buquê caro, mas por saber que uma rosa era suficiente. Chegou ao chafariz pouco antes dela vir caminhando, com o passo macio, com a cabeça erguida de um jeito meigo, com os olhos castanhos fitando-o. Ele sentiu um arrepio, os pelos do seu braço se eriçaram, ela chegou, o abraçou e beijou-o, com força suficiente pra ele sentir a pressão dos seios dela no seu corpo. Era lindo, eles estavam incrivelmente apaixonados, tão apaixonados que talvez fosse mentira. Eles tiveram um ótimo fim de tarde e início de noite. Eles então pegaram um táxi, e quando ele dizia ao taxista que levasse-os para a casa dela, de onde ele iria embora de ônibus, ela o corrigiu, e disse que a noite ainda não acabara, que ela iria para a casa dele. Eles chegaram, ele pagou o taxista, ela entrou na casa. Logo em seguida ele também entrou, ela pegou duas taças e uma garrafa de vinho rascante. Esvaziaram a garrafa, logo, outra, e mais outra. Não é preciso dizer o que houve depois, é completamente previsível, e todos já tinham conhecimento do que aconteceria. Mas, não foi prazer por prazer, não foi a carne com a carne. Foi sentimento, foi bonito, foi além do desejo de um homem pelo corpo nu de uma mulher bonita. Eles dormiram, tanto cansados pelo fim da noite, quanto pela bebida. Ela acordou no dia seguinte, saiu da cama de fininho para não acorda-lo, fez o café da manhã, levou pra ele em uma bandeja. E ficou olhando, com aquele olhar que somente os apaixonados fazem. Depois, eles sairam, riram e cada um foi para a sua casa. Ela sentou na frente da televisão e foi assistir a mais algum filme de amor. Ficou com um sorriso bobo na cara, pensando nele e decidiu que ligaria pra ele. Ele estava tomando banho, pensando em como era sortudo por ter aquela ruiva ao seu lado sempre, quando o seu telefone tocou. Era ela, dizendo que estava com saudades, ele disse que também estava, que a amava, ela disse o mesmo. Combinaram de sair no dia seguinte, e no outro, e no seguinte, durante umas duas ou tres semanas consecutivas. Estavam amarrados ao clichê da vida amorosa, e eles sabiam.Estavam amarrados ao clichê da vida amorosa e não podiam estar mais felizes.
...
Para aqueles que sempre dizem que só tenho textos tristes, o mais bonito que o amor pode dar. Não, eu não estou apaixonada, mas estou num dia bom. Sim, também sei que é só mais um conto bobo de amor, daqueles água-com-açúcar que se vê em todos os filmes americanos. Mas é o meu conto de fadas, minha história boba, e eu gostei dela. Felizes os que têm o prazer de deleitar-se em uma dessas.

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