domingo, 22 de março de 2009

Aprenda a fazer mentiras virarem verdades

Que palavras tolas eu vou despejar aqui desta vez? O que eu posso dizer que fará com que meu coração volte a bater com vontade? Uma mentira dita cem vezes vira verdade. 'Eu to bem.' 'Eu to bem.' 'Eu to bem.' 'Eu to bem.' 'Eu to bem.' 'Eu to bem.' 'Eu to bem.' 'Eu to bem.' 'Eu to bem.' 'Eu to bem.' 'Eu to bem.' 'Eu to bem.' 'Eu to bem.' 'Eu to bem.' 'Eu to bem.' 'Eu to bem.' 'Eu to bem.' 'Eu to bem.' 'Eu to bem.' 'Eu to bem.' 'Eu to bem.' 'Eu to bem.' 'Eu to bem.' 'Eu to bem.' 'Eu to bem.' 'Eu to bem.' 'Eu to bem.' 'Eu to bem.' 'Eu to bem.' 'Eu to bem.' 'Eu to bem.' 'Eu to bem.' 'Eu to bem.'... Um milhão e meio de vezes de palavras falsas que se repetem. Um milhão e meio de palavras falsas e frígidas, palavras que não dizem nada, tão desconexas e sem contexto como 'maçã azul'. Ai, essas dores. Dores que a biologia não explica. Espasmos no coração que não tem remédio. Fraturas claviculares que não se reparam. Traumatismos recentes, incoerentes, que não se remendam. Médicos estúpidos e impotentes. Não me ajudam, não me curam. Palavras tolas ditas por bocas indiferentes, palavras tolas ditas por bocas inconsequentes, palavras tolas, que me magoam. Ditos populares que não me atingem. E o meu futuro? E o que eu vou fazer? Eu não posso esperar que a minha vida se resuma a redações quinzenais e à aulas diárias. Me devoram, voram devoram. Ai, falar ai um zilhão de vezes, o prazer que as duas letras me dão. Chorar, e dar desculpas. Não quero um motivo para chorar, ainda que me sobrem. Tudo parece um texto suicida. Tudo parece uma carta anunciando o imintente fim. Mata, me mata, sobressaia dor rasa, engole, devore, rasgue dor mata. Mata, sorria, não esqueça. Ria, ria, mamãe quer saber que você tá feliz. Ria, ria, não diga pra mamãe que não é o que você quer. Ria, ria, não chore, mamãe vai ver. Ria ria, mamãe vai contar pro papai, e ai já era. Chora, lamenta, se tranca num quarto. Ponta cabeça, lagrimas escorrem, molham meu cabelo recem lavado. 'Não conte, é segredo' É um segredo! Não conte pra ninguém que você tá ficando maluco. Não conte, podem te levar pra ala psquiátrica. Não conte pra ninguém que você tá perdendo o juizo, mamãe se zanga. Durma agora, amanhã melhora. Não olhe pra trás, esqueça o ciúme, se encha de orgulho, cale suas palavras dispensáveis e batalhe pra conseguir o que mamãe projetou. Só não diga que não aguenta, que suas lágrimas acabaram e você já começa a chorar sangue. Não entregue o jogo assim. Aguente, respire. Amanhã vai tudo melhorar. Acredite. Acredite, e repita. (Uma mentira dita cem vezes vira verdade)
...
Tranquila lavadeira, estende roupa no varal. Lençol manchado vira pano de chão. Toalha rasgada seca o cão.
Nada se perde, tudo se aproveita.
Preta, ama de leite. Amamenta filho branco.
'Mãe preta, dói'
Mãe preta cura. Mãe preta não machuca.
Ajuda, ajuda.
Mãe preta apanha, doi.
Dor amarga e sanguenta.
'Não chora.'
Mãe preta segura.
Amarga traição.
...
Desoladamente, desesperadamente, choro meus ais. Inútilmente, sozinha e regurgitando palavras choro meus ais. Espelho companheiro eterno. Pelo menos em quanto eu tiver um corpo pra refletir. Conversas suaves que tive com você espelho. Dorme que a dor se afaga. Dorme que a claridade se aproxima. Espera, amanhã melhora, eu prometo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário