-A caverna é escura, como posso saber o que há dentro dela? E os grunidos que ouvimos, será que podemos nos defender de tal ameaça?
-Vai você primeiro, depois eu vou!
-Pra que entrar na caverna? Aqui nós temos sol, água, e árvores.
A história nua e crua: ninguém cede de seus privilégios pelo desconhecido. Ninguém se arrisca, ninguém se opõe. Mas é bom. O orgulho nos impulciona para frente. O orgulho, e a inveja. Quem inveja outra pessoa, vai buscar de tudo para ser melhor. Então de certa forma, todos deveriamos ser orgulhosos e invejesos. O problema é que eu acho que já somos. Somos e negamos. Somos e mentimos. Mentirosos. Somos também. Somos uma corja de sentimentos deploráveis que atuam em prol da humanidade. E as vezes eu me pergunto onde foi que ficaram estacionados no tempo o altruismo, a juventude, a ajuda. Em algum lugar antes da primeira guerra mundial. Não. Em algum lugar antes da existência dos políticos. Não definitivamente, é com pezar que eu digo que Cristo não foi o único a ser crucificado naquele dia. Em que um homem o delatou-nasce ai o dedo duro.
Martela, cabeça, martela.
Martelam sentimentos alheios.
Martela, cabeça, amarela.
Martelam certesas e devaneios.
Martela, ajuda, amarela.
Martelam tambores e tumbas.
Fazem festa na minha cabeça, um desfile de carnaval.
Martela, ajuda, martela.
Martelam por puro prazer.
Martela, martela, martela.
O martelar soa num sono profundo.
Um ruido que se torna mais fraco.
Um sonho do qual não acordo.
Martela, martela, martela.
Meu coração pulsa o seu último martelar.
...
"É mais fácil cultuar os mortos que os vivos. Mais fácil viver de sombras que de sóis. Mais fácil mimeografar o passado que imprimir o futuro. Não quero ser triste, como o poeta que envelhece lendo Maiakóvski na loja de conveniencia." (Zeca Baleiro)
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