Faroleiro só. Faroleiro triste. Faroleiro chora. Faroleiro pisca o farol. Acende e apaga quase instantaneamente o farol. Initerruptamente. Faroleiro triste, faroleiro só. Luciana roubou seu coração. Fez dele uso só seu. Pendurou na estante como premio de consolação. Faloreiro só, chora suas mágoas. Afoga seus enganos numa garrafa de rum. Faroleiro bebado. Faroleiro triste. Tropego, sobe as escadas do farol. Faroleiro tropeça algumas vezes. Engole algumas gotas de lágrimas, algumas gotas de suor. A garrafa na mão direita, estende-se à boca. Faroleiro tolo, faroleiro bebado. Regurgita goles de angústia. Faroleiro bebado, acaba com mais uma garrafa de rum. Faroleiro triste, encontra uma garrafa de gim no soalho. Faroleiro tropego, sobe escadas. Faroleiro cai em lágrimas novamente. Faroleiro engole as lágrimas. E mais uma vez acende e apaga as luzes do farol. "Luciana, megera, prometes-te a mim voltar pra me salvar da solidão. Luciana, estás atrasada. Luciana, Luciana." Faroleiro resolve escrever uma carta à Luciana. "Luciana, eu te dei meu coração de boa fé. Você porém o recusou, e fez de tudo uma simples ilusão. Luciana, eu poderia suportar a dor e continuar vivendo como um faroleiro velho e assombrado pela solidão. Mas querida Luciana, minha vida acabou a partir do momento que recusaste meu amor. E por isso, e pelos goles à mais de rum e gim, eu desfexo a minh vida com um gesto triunfal: por mais que você tenha me magoado, quero que saibas que serei pra sempre teu. Teu (nem tão) amado Faroleiro." Pos a carta dentro da garrafa vazia de rum e foi até a janela. Faroleiro bebado debruçado na janela. Fez força para jogar a garrafa longe e causou um acidente. Caiu dos 20 metros de altura do prédio e quebrou o pescoço. Dano permanente, irreversível. Faroleiro bebado, faroleiro desiquilibrado. Faroleiro morto. Imagine as manchetes:"Faroleiro morre de amores". Mas não, não haveriam manchetes. Era só um faroleiro isolado. Acontece que em exato momento que o faroleiro cai no chão e começa a jorrar sangue na calçada cimentada à beira-mar, adentra o portão central Luciana, com uma linda rosa na mão, e um cartão ensaiado de desculpas presa à ela. Luciana corre, e chega a tempo de o faroleiro a ver:"Luciana, pensei que não viesse. Está..." Seus olhos se tornaram frios, Luciana caiu em lágrimas. Luciana coloca a rosa no peito do faroleiro e beija uma última vez seus lábios já não mais quentes. Luciana deposita o cartão preso a rosa, e fica a contemplar o por do sol no mar. "Querido homem do farol, sei que estou atrasada, mas tenho uma boa descula eu lhe garanto. Acontece que Dona Eugênia, vizinha de minha mãe, adoenceu e precisou de alguém que cuidasse dela. A boa notícia é que com o trabalho eu pude completar o valor da casa, poderemos viver juntos meu querido! Seu grande amor, Luciana" E Luciana então empurrou o corpo do Faroleiro até a beira do mar, de um jeito que a maré quando subisse o levasse para longe; deitou ao seu lado, segurou sua mão e fechou os olhos. Quando recobrasse a memória já seria tarde de mais. A notícia boa é que de um jeito ou outro eles passariam a eternidade juntos. Luciana não chegou a ler a carta que seu amado escreveu pra ela. Achou que seria injusto com ele que não pode ler a sua última carta. O amor deles foi eternisado. E até hoje algumas avós contam para os seus netos a Lenda do Faroleiro apaixonado. E Faroleiro e Luciana desfrutam da morte como jamais desfrutaram a vida.
Fim
Ps:Detalhes da foto- Ilhabela SP