quinta-feira, 11 de julho de 2013

O Tempo

Grita o motorista de dentro do ônibus, umas palavras chulas com intenso rubor facial, enquanto outro motorista as ouve e dispões tantas palavras chulas quanto o primeiro, com mesmo rubor.Uma preta agarrada ao rebento, o arranca do chão pelos braços, sacudindo-o e reclamando da pirraça que o moleque faz.
Um rapaz passa voando montado numa bicicleta, e quase que sem ninguém notar, arranca um colar do pescoço de uma mulher no ponto de ônibus.
Balbucia com o telefone um engravatado, algo sobre reuniões, conferências ou licitações.
Uma menina fantasiada de mulher, corre na frente dos carros que avançam o sinal, tentando mais rapidamente chegar ao outro lado.
Os motoristas que discutiam, estavam tão entretidos na tarefa, que nem viram a garota derrubar vários papéis e se abaixar para pega-los.
De repente uma sinfonia, com cume em buzinas, pneus freando e um grito agudo (de criança), fazem com que o silêncio e a calma reinem na floresta de calçadas.
Em uníssono respiram as pessoas que prontamente circundam o acidente, sem, entretanto, nada fazer.
A menina fantasiada de mulher, recém-aprovada no vestibular, que ia para sua primeira aula na faculdade, permanece estirada no chão... com persistência enche todo o pulmão de ar, num último suspiro... com seu sangue ainda quente banhando a rua, manchando suas roupas (que não precisará mais vestir)... com os olhos vidrados mirando o sol.. com a vida (morte) que podia ter sido, mas não foi...
Passa uma moça correndo, aleatória e isolada de todo ato... afoita encarando o relógio repetidas vezes, como esperando os ponteiros rodarem ao contrário, lembrando aos que se distraíram com o show, que corriam porque tinham um lugar pra ir e uma hora pra chegar...
A camada grossa da platéia se desfez, uma vez que não podiam perder a hora.
Para a limpeza do salão, a retirada das toalhas das mesas, o varrimento do chão, o polimento dos talheres, ficaram somente os desocupados, os destratados, e os que por alguma razão se puseram a pensar com todo o espetáculo, um grupo de quatro ou cinco pessoas..
Intimidado com o acidente, eu fiquei quieto, sentado num banco, destacável de toda a cena... sentindo tomar conta de mim o torpor, o medo e a agonia...
comecei a pensar na pressa que temos de fazer o que não gostamos pra ganharmos dinheiro e comprarmos coisas que não precisamos pra mostrarmos pras pessoas que não conhecemos o quão bem sucedidos somos Fragmentamos o tempo, decidimos mensura-lo e nomea-lo com horas, minutos e segundos. Fizemos isso para que nos guiasse, para que controlássemos-o.
Mas na verdade, burros que somos, ainda não percebemos que é ele, O Tempo, que nos controla.

quinta-feira, 4 de julho de 2013

Clomipramina

E no momento que mais anseio teu abraço, me falta o fomento do teu amar.
Reclusa de tua voz, todo som me faz angustiar.
E as noites se passam claras, os dias parecem pausar.
Vivo em anedonia, em profundo e imenso desprazer.
Não quero ver as outras faces, nem os outros sorrisos...
Não desejo nada fazer... a não ser em ti mergulhar.
Ainda não desenvolveram tratamento capaz de saudade curar..