segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Terceiro ano, quem diria?

O dia clareou, raiou o sol. E dentro de mim, nevoeiros, pestes, dilúvios, furacões e vendavais, dizimam a densidade populacional. As pequenas pessoinhas felizes que me habitam, morrendo, coitadas. Hoje não é um bom dia pra escrever. A minha veia cínica está afetada, e a tragédia tá parecendo uma grande comédia. Quem estou querendo enganar? Eu estou indiferente. Completamente indiferente, se o sol nascer amanhã, ou a chuva persistir, quem me dirá que isso tira de mim o direito de viver? Férias? Ui. Parece que não chegam. Eu to é querendo deitar no sofá, com os meus livros, ler madrugada a dentro, e não me importar de engordar aqueles quilos que eu perdi ao longo do ano. Férias? Não começam nunca, porque por culpa de um enem mal resolvido, dias 9 e 10 de janeiro eu tenho prova pra UFRJ. Não, porque até lá, supostamente, eu tenho que estudar. E quem quer estudar? Com tanto filme repetido pra ver, tantas horas pra ficar na frente do computados fazendo nada, tanta besteira pra comer, tanto cinema, piscina, puxa, tanta coisa melhor. Até reclamar do tédio é uma das atividades favoritas das pessoas da minha idade. E ouvir as pessoas sugerindo que se o tédio é tão grande deveriamos estudar, é perturbador. Claro, porque pra um adolescente de férias, só pensar em livros, escola, química, geografia, dá dor de cabeça. E eu, que to entre o céu, que é a completa inércia, e o inferno, que é estudar até os joelhos esquecerem que podem ser esticados, to aqui, penando, chorando, e claro, não estudando. O que é pior, porque eu vou me arrepender de não estar fazendo-o. Por que, não saiu resultado nenhum ainda? Paz, tranquilidade, eu quero respirar! Quero curtir as minhas férias como todo adolecente, quero ir pra praia, quero ir pro shopping, ver aqueles amigos que não via há mais de meses. Quero ver meu namorado, ou melhor, descobrir se tenho um, e se não tiver, arranjar um deveras. Férias foram feitar pra nós descansarmos do que nos cansou o ANO inteiro. O que acontece, é que o que me cansou o ano inteiro, ainda me cansa. As brigas com os meus pais, as notas da escola, os vestibulares, o namorado(ou seja lá o que esse garoto for). Tudo, conspirando maléficamente contra mim. Então, que o ano entre logo, que dia 10 chegue logo, que os resultados saiam logo. Pra que, enfim, eu possa dormir em paz.

domingo, 20 de dezembro de 2009

Insegurança

O que me falta dos carinhos e confições que me o faça chamar de meu? Que se perdem entre os devaneios da minha mente, onde há o vazio inóquo das palavras que me foram ditas? O que me falta, para eu toma-lo como meu? Por que me parece que estás prestes a correr, e quanto mais eu o puxo, maior a sua ânsia de soltar-se? Por que os teus braços não me seguram, não me apertam? Por favor, não me deixe ir agora. Por favor, me leve por esta noite, onde os céus dos calafrios, e as lamparinas das estrelas tintilam o nosso caminho. Por favor, vamos andar pelo prazer, e não ansiar o destino. É que eu não encontro forças, maiores que estas palavras, que me fixem à este contexto. Por que dizer é mais fácil que fazer? Não, não faz sentido procurar a vã matéria do indefinido. Que eu não corro por mares desconhecidos sozinha. É que eu tenho medo de escuro. Do nevoeiro indigesto, do frio corrosivo. Do negro enchendo os meus olhos, por mais que aperte-os para enxergar. É que eu quero uma mão amiga. Me ditando as ordens, me dizendo as cordenadas. É que eu quero um beijo profundo, alcansando o mais profano dos meus pensamentos, exalando os odores do acasalamento. É que eu quero o teu queixo abstrato, com a barba por fazer, dançando no meu pescoço, eriçando os pelos do meu braço. E a tua mão, catando por baixo da blusa, a minha cintura nua. Transformando o escuro inerte num espetáculo de luz e som. Os fogos de artifício uivando o fim, ou o nascimento, de uma história. É que na minha dor, eu procuro o teu cheiro, reconfortando as minhas narinas. É que na minha angústia, eu procuro a tua barriga, comprimindo os meus seios, quando tua boca afaga a minha ânsia. É que eu procuro o seu rosto, em meio à multidão dos não facetados, quando o medo me encontra. É que eu faço tudo isso, sem saber, se o mesmo faz você. E esse não saber, e essa insegurança, transforma meus sonhos mais bonitos, em verdadeiros holocaustros, me assassinando, sem piedade. É que a minha mão, ainda procura a tua, todos os dias. É que o meu pensamento, não falta você, me dizendo, me querendo, me bebendo, me tomando, como tua. Que eu ainda esqueço, que nao sou dona, nem de mim própia, que dirá de você. Que dirá dos teus olhos, dos teus lábios, das suas mãos. Não importa a minha relação, desde que me olhes, me beijes, me toques. Só falta a mim mesma, entender essa relação.

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Reveillon

Parece que o tempo passou por mim sem que eu pudesse nota-lo.
Dias, logo se transformaram em semanas, e estas em meses. Como se os meus dias não fossem longos. Como se eu não sentisse, que eles se arrastam, passando incrivelmente devagar, vagarosamente lambendo as sobras de um doce incrivelmente raro. Todos os dias assim. Dias que passam com gosto de semanas. Uma decisão que se torna cada vez menos certa, como se o tempo tirasse a autoridade de algo pouco consistente. E eu esperando, agonizando, descolorindo palavras e tornando-as, funebres. Como um enterro sigiloso, numa tarde chuvosa de domingo. Não, claro, todos merecem seus descansos. Nada que não melhore com a chegada de mais um fim de ano. É como se essa virada especial do dia 31/12 para 01/01 fosse a enxurrada de cores, de lápiz de cera a colorir um céu amargo. Esse céu amargo, que no início do ano, todos fingem que não veêm, mas que todos sofrem com a sua existência. Sim. É como se o passar dos minutos fosse capaz de limpar o que ficou de sujo. E tirar os vestígios do que não foi. Mas o que não foi, continuará não sendo, ora pois, acabou. Assim como a prorrogação do jogo, assim como o badalar dos sinos, cessou. E por cessar nos impõe como índole, a fraqueza. Sim, porque somos tão fracos quanto as gramíneas secas da ausência de chuvas. Nós nos alimentamos de ego, e se a fonte desse ego morre, morremos também, na incompetência de nossas virtudes. Sim, incompetentes, como um servo punindo a si mesmo. Como a dor, ordenando a si própria. Como as regras que nos impomos, e não sabemos cumprir. Não, não é impossível, só não somos assim, ainda. Só não evoluimos à esse ponto. Não, porque a evolução é milenar, a evolução é o maior dos ancestrais, a mais longa dos ballets, a mais estúpida das brincadeiras. Não, não a mais estúpida. Não supera a mentira que contamos a nós mesmos. Aquela em que realmente acreditamos. Sim. Tudo há de acabar, mas por hora, precisamos suportar, e esperar para que trinta e um de dezembro chegue antes de explodirmos.